Stress relacionado ao trabalho no Brasil: da dimensão empírica à determinação social
DOI:
https://doi.org/10.12957/sustinere.2021.62870Palavras-chave:
Saúde Mental, Saúde do Trabalhador, Stress, Trabalho, Transtornos Relacionados a Trauma e Fatores de EstresseResumo
Com o objetivo de analisar as múltiplas facetas do stress relacionado ao trabalho no Brasil, foi elaborada essa pesquisa teórica, em três etapas metodológicas: levantamento estatístico sobre stress entre 2008 e 2017, a partir de dados da Dataprev; revisão integrativa do período de 2017 a 2019, com a combinação dos descritores stress AND occupational health na Biblioteca Virtual da Saúde; e problematização teórico-filosófica sobre a determinação social do stress no trabalho, baseado no materialismo histórico-dialético. Os dados da Dataprev revelam uma tendência de aumento do stress relacionado ao trabalho no período estudado. Na revisão, constatou-se predominância no setor de serviços, em especial, na saúde. Sobre a determinação social, considerou-se a correlação dos elementos estressores e as metamorfoses do complexo do trabalho face à crise estrutural do capital. Nessa esteira interpretativa, partimos do stress como mediação para pensar, mais amplamente, a saúde mental dos trabalhadores, inclusive ratificando a eminência dessa mediação ante o conjunto que compõe. A nota reflexiva final consiste em apreender um outro componente desse prolixo mosaico, qual seja: o desmonte e a fragilização dos serviços públicos de saúde. A tragédia da saúde mental dos trabalhadores brasileiros se manifesta, portanto, pelo menos, em duas faces: de um lado, a degradação da saúde mental pelo trabalho e, doutro, a exponenciação por conta da fragilização das políticas de saúde no Brasil.
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