“EU QUERO USAR, PAPAI!”:
E quando a família presenteia o garoto com um vestido da Mulher Maravilha?
DOI:
https://doi.org/10.12957/periferia.2024.83232Palavras-chave:
artefato cultural, gênero, masculinidade, cisnormatividade, infânciaResumo
Há alguns anos tem ocorrido uma intensificação de um movimento antigênero que questiona o debate sobre gênero e sexualidade, especialmente, nas infâncias, buscando proibir essas discussões fora do âmbito familiar. Mas, e quando a família transgride as normatizações de gênero? Pensando nisso, analisamos um artefato cultural que repercutiu nas redes sociais, em 2023, ao mostrar um garoto, de quatro anos, muito feliz em usar um vestido da Mulher Maravilha, presenteado pelo pai e pela mãe. O vídeo tem duração de, aproximadamente, 50 segundos, foi publicado em várias páginas do Instagram. Assim sendo, neste trabalho, analisamos as repercussões deste vídeo que mostra o pai e a mãe presenteando o filho com um vestido da Mulher Maravilha. Elencamos como questões norteadoras: Que processos educativos sobre gênero e sexualidade são ensinados pelo artefato cultural? Como são lidas as famílias que questionam a fixidez e binariedade de gênero e reivindicam o desejo de suas(seus) filhas(os)? O discurso da infância como inocência e de que a família estaria induzindo o filho, ao presenteá-lo com uma roupa lida como feminina, esteve presente em vários comentários. Este discurso pauta-se no pensamento cisheteronormativo, no qual, neste caso, entende-se que a família deveria educar para reiterar as masculinidades cisgêneras e não contestá-las. Por subverter as normas, em vários comentários, a família é rechaçada, inclusive pondo em xeque a heterossexualidade do pai. Por outro lado, em outros comentários, há enunciados valorizando a atitude da família em reconhecer o desejo do filho e em não puni-lo ou corrigi-lo.
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