LITERATURA FEMINISTA PARA CRIANÇAS:
Uma pedagogia outra para ensinar feminilidades não hegemônicas
DOI:
https://doi.org/10.12957/periferia.2024.83206Palavras-chave:
Pedagogia feminista, Currículo cultural, Literatura infantil, GêneroResumo
Neste artigo, partimos do pressuposto de que a literatura infantil é um potente currículo cultural, que disponibiliza diferentes saberes e que mobiliza um interesse particular nas crianças, especialmente através da diversão, fantasia e encantamento oferecidos. Em nossa contingência histórico-social, o discurso feminista tem sido acionado para fundamentar propostas de livros, em gêneros variados, que vêm sendo produzidos e divulgados, para as infâncias, com um viés feminista. Com base nas contribuições dos estudos culturais e dos estudos de gênero, em uma perspectiva pós-estruturalista, o objetivo deste estudo é analisar uma amostra de livros do clube de assinaturas Minha pequena feminista, que reúne e oferta obras selecionadas com a intenção de difundir uma pedagogia outra por meio da literatura infantil. Utilizando elementos metodológicos inspirados na análise do discurso foucaultiana, argumentamos que esses livros constroem uma pedagogia feminista que faz enaltecer ensinamentos de gênero, para as crianças, fora da norma prevalente de gênero, e realçam condutas e performances femininas não hegemônicas. Partimos do princípio de que o gênero é, ao mesmo tempo, uma norma que tenta fixar determinadas posições para homens e mulheres e uma possibilidade para desconstruir essas normas. Nesse sentido, a pedagogia feminista observada nas obras analisadas aciona procedimentos diversos, como a divulgação da enunciação de que meninas (e meninos) podem ser o que quiserem; a apresentação da racionalidade e da emoção como aspectos a serem vividos independente do gênero e o empoderamento de meninas negras, situando-as em posições geralmente não associadas às mulheres.
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