AUTOVERDADES DE UMA BASE IMPOSTA EM UMA EDUCAÇÃO EXPOSTA
DOI:
https://doi.org/10.12957/periferia.2023.78321Palavras-chave:
Autoverdade, Base Nacional Comum Curricular, Educação Pública, Rede Estadual de Educação do Rio de Janeiro.Resumo
Este artigo objetiva apresentar articulações linguístico-discursivas provenientes de enunciados de segmentos privatistas, a saber, Movimento pela Base (MPB) e Fundação Lemann (FL), a partir dos quais os próprios enunciadores justificam a necessidade do documento Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no que tange a questões legais, lançando mão da estratégia denominada por Brum (2018) como autoverdade. Para isso, realizou-se um movimento analítico cartográfico (BARROS; KASTRUP, 2010 DEUSDARÁ; ROCHA, 2021) de práticas comuns a agentes privatistas no contexto de produção de políticas educacionais recentes, relacionadas à BNCC, discutindo-as a partir de referenciais teóricos do campo da Educação e do Currículo (ADRIÃO; PERONI, 2008, 2012; APPLE, 2005; CAETANO, 2015, 2019; CURY, 2003), sob a perspectiva da Análise do Discurso de base enunciativa (MAINGUENEAU, 1997, 2011). Visando alcançar o objetivo estabelecido, foram analisados enunciados provenientes do MPB e da FL relativos à fundamentação legal para a necessidade da BNCC, explicitada no Documento Conceito (Movimento pela Base, 2015) e em notícia divulgada no portal da Fundação Lemann, intitulada BNCC do Ensino Médio: 5 razões para continuar colaborando (Fundação Lemann, 2018). Com o intuito de mostrar o processo de implementação da BNCC na sala de aula de colégios da Educação Básica, apresentou-se um aspecto presente na área de Linguagens no Ensino Médio da Rede Estadual do Rio de Janeiro, a partir do exame da Resolução 6035/22. As análises mostram inconsistências nos enunciados dos agentes privatistas e uma realidade educacional caótica aprimorada pelas determinações do Novo Ensino Médio.
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