MULHERES EVANGÉLICAS E CONSERVADORISMO: aproximações analíticas sob as lentes de gênero e raça
DOI:
https://doi.org/10.12957/periferia.2023.74542Palavras-chave:
Mulheres Negras Evangélicas, Discursos Conservadores, Feminismo Negro, Decolonialidade.Resumo
O texto é produto de uma pesquisa bibliográfica sobre as interconexões entre raça, racismo, gênero, feminismos e cristianismos no Brasil, em diálogo com as experiências de uma mulher preta trabalhadora e periférica, mãe de meninas pretas, esposa, evangélica e mestranda de um programa de pós-graduação feminista no qual desenvolve o projeto intitulado “Os discursos evangélicos conservadores e sua influência na percepção das mulheres evangélicas sobre raça e gênero”. A importância desta temática no Brasil é crescente, pois, de um lado, temos a expansão desenfreada do fundamentalismo religioso, reforçada pelo neofascismo desencadeado, principalmente, pela atuação deletéria de expoentes ligados ao Governo Federal e cuja gestão foi finalizada em 2022 e, por outro lado, simultaneamente, testemunhamos o fortalecimento de movimentos buscando barrar esta ofensiva conservadora. Nesse contexto, as mulheres evangélicas têm se constituído como parte considerável do público atingido por essa onda avassaladora de fundamentalismo, conservadorismo e violência e para compreender esse universo em sua complexidade recorremos a um aporte teórico-metodológico de pesquisa baseado no pensamento decolonial e no feminismo negro, valendo-se, concomitantemente, do método da suspeita e da interseccionalidade. Assim, é sob essas lentes que nos propomos a uma primeira aproximação dos cenários e sujeitos da pesquisa, para lançar algumas luzes sobre a forma como ideologias conservadoras têm exercido influência sobre as mulheres, especialmente sobre as mulheres negras evangélicas pertencentes às organizações religiosas protestantes históricas, pentecostais e neopentecostais na cidade de Salvador.
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