Teoria e ensino de história: temporalidade, pós-verdade e democratização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2023.75854

Palavras-chave:

Teoria da História, Ensino de História, Temporalidade, Pós-verdade, Democratização

Resumo

O artigo aproxima teoria e ensino de história tendo em vista o enfrentamento de dois problemas que afetam tanto o debate teórico sobre a história quanto as aulas de história na contemporaneidade. O primeiro é o problema da temporalidade enquanto ferramenta analítica de compreensão das articulações entre passado-presente-futuro das sociedades no tempo e, em particular, da experiência social do tempo no tempo presente, marcada pelo atualismo. O segundo é o problema da pós-verdade enquanto comportamento epistemológico que consagra a repetição do mesmo e a ratificação de um sistema de crenças previamente reconhecido, reanimando com novos traços a discussão sobre a verdade em história. Por fim, articulamos um e outro ao desafio da instrumentalização da história para a democratização por meio da verdade poética, centrada em afetos como a empatia e o cuidado e em valores democráticos como a descentralização das vozes, valorização da escuta e do primado da diferença. Além do repertório conceitual contido no debate consagrado sobre temporalidade e pós-verdade, trouxemos para interlocução as reflexões e experiências docentes de três professores-autores em suas dissertações produzidas no âmbito do Mestrado Profissional em História (ProfHistória).

Biografia do Autor

Daniel Pinha Silva, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História; e do ProfHistória/UERJ, Faculdade de Formação de Professores. Doutor e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduado em História pela UERJ. Atualmente Coordena a Comunidade de Estudos de Teoria da História - COMUM. Bolsista do Programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ e do Programa de Incentivo à Produção Científica, Técnica e Artística - PROCIENCIA, UERJ/FAPERJ.

Marcelo de Mello Rangel, Universidade Federal de Ouro Preto

Professor Adjunto da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de História. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Doutor e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduado em Filosofia pela UFRJ e em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenador do “Grupo de Pesquisa em História, Ética e Política” (GHEP/UFOP) e do Grupo de Trabalho “Alteridade e Desconstrução” da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia - ANPOF. Bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.

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Publicado

2023-06-20

Como Citar

Silva, D. P., & Rangel, M. de M. (2023). Teoria e ensino de história: temporalidade, pós-verdade e democratização. Revista Maracanan, (32), 250–266. https://doi.org/10.12957/revmar.2023.75854