Considerações decoloniais sobre a opressão sistêmica aos corpos dissidentes na música da Belle Époque de Fortaleza

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2023.75135

Palavras-chave:

Música, Cultura popular, Belle Époque, Decolonialidade

Resumo

Este artigo tem como objetivo debater a opressão sistêmica aos corpos dissidentes por meio da disseminação da ideia de cultura popular propagada na música da Belle Époque de Fortaleza. Acreditamos que essa prática se configura como uma forma de silenciamento mais sofisticada vinculada à colonialidade do poder, que passa pelo processo de julgamento e tentativa de tutela do outro para destituí-lo de um locus próprio de enunciação e de autoridade epistêmica para a elaboração de suas próprias experiências históricas. Usamos como referências as músicas que foram registradas em partituras e discos de 78 rpm dos acervos de Miguel Ângelo de Azevedo e da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará; correspondências, livros de música, coletâneas de crônicas e periódicos. Compreendemos, antes de mais nada, a Belle Époque como um discurso que opera dentro da lógica da colonialidade, impondo um padrão de dominação desenvolvido pela modernidade que, por sua vez, incide na realidade dos corpos colocados em dissidência em relação às estruturas de poder. Nesse sentido, refletimos sobre essas questões com base no pensamento decolonial. Acreditamos que esse tipo de análise funciona como uma provocação que tenciona e enriquece a nossa agenda de problemas da Teoria da História e da História da Historiografia.

Biografia do Autor

Ana Luiza Rios Martins, Universidade Estadual do Ceará

Professora da Universidade Estadual do Ceará, Universidade Aberta do Brasil. Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco; Mestre em História pela Universidade Estadual do Ceará; Especialista em História do Brasil pelo Centro Universitário Uninta; graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. 

Emílio Albuquerque Fernandes, Secretaria de Educação do Estado do Ceará

Professor da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Mestre em História pela Universidade Federal do Ceará; graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Formado em Violoncelo pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí. 

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Publicado

2023-12-31

Como Citar

Rios Martins, A. L., & Fernandes, E. A. (2023). Considerações decoloniais sobre a opressão sistêmica aos corpos dissidentes na música da Belle Époque de Fortaleza. Revista Maracanan, (34), 261–274. https://doi.org/10.12957/revmar.2023.75135