Cultura digital e competência narrativa nas humanidades: os arquivos como redes e as redes como arquivos no trabalho escolar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2023.73138

Palavras-chave:

Ensino de História, Narrativa, Acervos Digitais, Humanidades Digitais

Resumo

Esse artigo parte de reflexões teóricas para chegar a proposições de caráter prático, em particular aquelas relacionadas ao ensino da disciplina História. Duas inquietações mobilizam-nos na escrita desse artigo: 1) como é possível mediar o aprendizado discente no desenvolvimento de competências narrativas utilizando-se do universo digital? 2) De que maneiras, e aqui evidenciamos apenas algumas delas, as formas de do conhecimento histórico em ambiente digital se configuram? Por fim, as reflexões aqui contidas, que transitam francamente entre a teoria e ensino da História, pretendem fazer refletir criticamente sobre a organização do letramento histórico e a dinâmica qualitativa dos espaços das redes. Igualmente, pretende-se compreender como os espaços digitais se transformam em lugares de disputas de estruturas narrativas e de autoridade da configuração do conhecimento histórico.

Biografia do Autor

Francisco Gouvea de Sousa, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História. Doutor e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Guilherme Gomes Moerbeck, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História; Professor do Mestrado Profissional em Ensino de História ProfHistória/UERJ. Pesquisador em pós-doutorado na Université du Québec à Trois-Rivières (UQTR), Faculté des Sciences de l’Éducation. Doutor, Mestre e graduado em História Social pela Universidade Federal Fluminense. Coordenador do Grupo de Estudos em Ensino da História Antiga (Didaskō), do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES/UERJ). Pesquisador do Centre de recherche interuniversitaire sur la formation et la profession enseignante (CRIFPE/UQTR) e do Laboratório em Rede de Humanidades Digitais (LARHUD/IBICT).

Referências

ADICHIE, Chimamanda. N. O Perigo de uma História Única. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

APPADURAI, Arjun. The Past as a Scarce Resource. Man, Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, v. 16, n. 2, p. 201-219, Jun. 1981.

ALVES, Daniel. As Humanidades Digitais como uma comunidade de práticas dentro do formalismo académico: dos exemplos internacionais ao caso português. Ler História, n. 69, p. 91-103, dez. 2016.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

ALMEIDA, Juniele R. Práticas de história pública: o movimento social e o trabalho de história oral. In: História Pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

ARAUJO, Valdei L. de; PEREIRA, Mateus H. de F. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. Vitória: Milfontes, 2019.

ASEN, Robert. Neoliberalism, the public sphere, and a public good. Quarterly Journal of Speech, National Communication Association, n. 103, v. 4, p. 329-349, 2017.

ASSIS, Arthur. A teoria da história de Jörn Rüsen: uma introdução. Goiania: Ed. UFG, 2010.

BALAKRISHNAN, Gopal. Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

BELL, David. Cyberculture theorists: Manuel Castells and Donna Haraway. London; New York: Routledge, 2007.

BRÜGGER, Niels; SCHOEREDE, Ralph. The web as history. Using the past archives to understand the Past and the Present. London: UCL Press, 2017.

BUCKINGHAM, David. Aprendizagem e Cultura Digital. Revista Pátio, v. 44, p. 1-5, 2008.

CÁDIMA, Francisco Rui. A Memória e a Era Digital. Media & Jornalismo, n. 20, v. 36, p. 193-206, 2020. DOI: https://doi.org/10.14195/2183-5462_36_10.

CARRETERO, Mario; LÓPEZ, César. Estudios cognitivos sobre el conocimiento histórico: aportaciones para la enseñanza y alfabetización histórica. Enseñanza de las ciencias sociales: revista de investigación, Universitat de Barcelona; Universitat Autónima de Barcelona, n. 8, p. 75-89, 2009.

CARVALHO, Bruno L. P. de. Nativos digitais, imigrantes digitais: quinze anos depois. In: BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; CREMA, Everton (Orgs.). Visões sobre Aprendizagem Histórica. Rio de Janeiro; União da Vitória, BA: LAPHIS; SobreOntens, 2016.

CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2015.

CASTRO, Renan M. de; PIMENTA, Ricardo M. Novas práticas informacionais frente às humanidades digitais: a construção de acervos digitais como suporte para as digital humanities. Informação & Informação, UEL, Departamento de Ciência da Informação, v. 23, n. 3, p. 523-543, dez. 2018.

DIJK, Jan A. Van; DEURSEN, Alexander Van. Digital skills: unlocking the information society. New York: Palgrave Macmillan, 2014.

FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

FREIRE, Paulo; FAUONDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

GADAMER, Hans Georg; KOSELLECK, Reinhart. Historia y hermenêutica. Barcelona: Paidós, 1997.

GAGO, Marília. Consciência Histórica e narrativa no ensino da História: Lições da História…? Ideias de professores e alunos de Portugal. Revista História Hoje, v. 5, n. 9, p. 76-93, jul. 2016.

GUIMARÃES, Lucia M. P. Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Rio de Janeiro: IHGB, 1997.

GUARINELLO, Norberto. Uma Morfologia da História: As Formas da História Antiga. Politéia - História e Sociedade, UESB, v. 3, n. 1, maio 2010.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KOSELLECK, Reinhart. Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona: Paidós, 2001.

LEE, Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. Educar em Revista, v. 22, n. esp., p. 131-150, 2006.

LEMOS, Renato de L. Guerrilha digital e produção de contranarrativas: resistindo aos impactos dos mecanismos de dominação de memória na internet. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 1-17, 1991.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

LIDDINGTON, Jill. O que é a História pública? Os públicos e os seus passados. In: ALMEIDA, Juniele R. de; ROVAI, Marta. G. de O. (Orgs.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.

LOVELUCK, Benjamim. Redes, Liberdades e Controle. Uma Genealogia Política da Internet. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

LUCAS, J. S. Historical Thinking is Unnatural, and Immensely Important: An Interview with Sam Wineburg. Historically Speaking, Johns Hopkins Univ. Press, v. 7, n. 3, p. 39-42, jan.-fev. 2006.

LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

MAPOSA, Marshall; WASSERMANN, Johann. Conceptualising historical literacy - a review of the literature. Yesterday and Today, Academy of Science of South Africa, n. 4, p. 41-66, jan. 2009.

MARINO, Ian K.; et al. Como contar a história da Covid-19? Reflexões a partir dos arquivos digitais no Brasil. Esboços, UFSC, Florianópolis, v. 28, p. 558-583, 2021.

MARTINS, Estevão de R. Consciência Histórica. (Verbete). In: FERREIRA, Marieta de M.; OLIVEIRA, Margarida M. D. de (Orgs.). Dicionário De Ensino De História. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2019.

MARTINS, Estevão de R. Historicismo: Tese, Legado, Fragilidade. História Revista, n. 7 (1/2), p. 1-22, jan.-dez. 2002.

MBEMBE, Achille. The Power of the Archive and its Limits. In: HAMILTON, C.; et al. (Eds.). Refiguring the Archive. Dordrecht: Springer, 2002.

MEC - Ministério da Educação. Base Nacional Curricular Comum. Brasília, 2019.

MENESES, U. T. B. de. A História, Cativa da Memória? Para um Mapeamento da Memória no Campo das Ciências Sociais. Revista do IEB, São Paulo, n. 34, p. 9-23, dez. 1992.

MENESES, U. T. B. de. Educação e museus: sedução, riscos e ilusões. Ciências & Letras, n. 27, p. 91-101, jun. 2000.

MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, ANPOCS, São Paulo, v. 32, n. 94, p. 1-18, 2017.

MOERBECK, Guilherme. História Antiga no ensino fundamental: Um estudo sobre a os mitos gregos antigos e a consciência histórica. Revista História Hoje, v. 7, n. 13, p. 225-247, nov. 2018.

MOERBECK, Guilherme; SOUSA, Francisco G. Apresentação - Teoria, escrita e ensino de História: Além ou aquém do eurocentrismo? Revista TransVersos, UERJ, n. 16, p. 6-20, ago. 2019.

MOERBECK, Guilherme. Em defesa do ensino da História Antiga nas escolas contemporâneas: Base Nacional Curricular Comum, usos do passado e pedagogia decolonial. Revista Brathair –Revista de Estudos Celtas e Germânicos, UEMA, v. 1, n. 21, p. 50-91, 2021.

MOERBECK, Guilherme; ÉTHIER, Marc-André. Les défis de l'éducation à la citoyenneté et de l'enseignement de l'histoire à l'école: um entretien avec François Audigier. Revista TransVersos, UERJ, n. 23, p. 15-38, dez. 2021.

MOERBECK, Guilherme; ARAÚJO-OLIVEIRA, Anderson. Dimensões didáticas e disciplinares do ensino da História: o caso do 6º ano do Ensino Fundamental no Brasil e do 3e cycle du Primaire no Québec. Tempo e Argumento, UESC, v. 14, n. 37, p. 1-34, 2022.

MOERBECK, Guilherme; ROCHA, Thaís da. Antiguidade ao mundo atual: as dimensões da História Antiga e os seus públicos. In: MENESES, S.; WANDERLEY, M. de A. I.; MELO, R. A. (Eds.). Ensinar com História Pública desafios, temas e experiências. Sobral, CE: Sertão Cult, 2022.

MOERBECK, Guilherme. Nothing will be like before: Some thoughts on teaching ancient history. Everyday Orientalism, n. 1, p. 1-7, 2023.

MOSS, Michael. Opening Pandora’s Box: What is an archive in the digital environment? In: CRAVEN, Loise. What are Archives? Burlington: Ashgate, 2008.

NAKOU, Irene. Exploração do pensamento histórico dos jovens em ambiente de museu (Children’s historical thinking within a museum environment). In: BARCA, Isabel (Ed.). Educação histórica e museus : actas dos Serviços de Biblioteca e Documentação da FLUC. Braga: Universidade do Minho, 2003.

NASCIMENTO, Éder. D. A metodologia WebQuest na aula de história. 2018. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) – Universidade Estadual do Paraná, Campo Mourão (PR), 2018.

NICODEMO, Thiago. L.; CARDOSO, Oldimar. Meta-história para robôs (bots): o conhecimento histórico na era da inteligência artificial. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 12, n. 29, 2019.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Revista Projetos de História, São Paulo, p. 7-28, 1993.

NOIRET, Serge. História Pública Digital/Digital Public History. Liinc em Revista, v. 11, n. 1, maio 2015.

PALTÍ, Elias. Introducción. In: KOSELLECK, Reinhart. Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona: Paidós, 2001.

PORTUONDO, José. A. La historia y las generaciones. Habana: Letras Cubanas, 1981.

PRENSKY, Marc. Nativos e Inmigrantes Digitales. Cuadernos SEK 2.0, p. 3-20, 2010.

RIVOLTELLA, Pier C. etrospectivas e tendências da pesquisa em Mídia-Educação no contexto Internacional. In: FANTIN, Mônica; RIVOLTELLA, Pier C. (Orgs.). Cultura Digital e Escola: Pesquisa e formação de professores. Campinas, SP: Papirus, 2013.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

RODRIGUES, Icles. Novos combates pela história: desafios - ensino. São Paulo: Contexto, 2021.

RÜSEN, Jörn. História Viva - teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. UnB, 2010.

RÜSEN, Jörn. Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Ed. UFPR, 2010.

RÜSEN, Jörn. Historische Sinnbildung: Grundlagen, Formen, Entwicklungen. Wiesbaden: Springer Fachmedien Wiesbaden, 2020.

SCHREIBMAN, Susan; SIEMENS, Ray G.; UNSWORTH, John. (Orgs.). A companion to digital humanities. Malden, MASS: Blackwell, 2004.

SELWYN, Neil. Approches critiques des technologies en éducation: un aperçu. Formation et profession, v. 27, n. 3, p. 6, 2019.

SIEBÖRGER, Rob. Public History and the School Curriculum: Two South African Case Studies. In: DEMANTOWSKY, M. (Org.). Public History and School. Berlim: De Gruyter, 2018.

SOUSA, Francisco G. Por que não sou um sábio? Um comentário sobre a resposta de Hans-Georg Gadamer ao elogio de Reinhart Koselleck. Revista de Teoria da História, v. 18, p. 246-266, 2017.

TURNER, Anthony. Generation Z: Technology and Social Interest. The Journal of Individual Psychology, v. 71, n. 2, p. 103-113, 2015.

VEEN, Wim; VRAKKING, Ben. Homo zappiens: educando na era digital. Porto Alegre: Grupo A - Artmed, 2009.

WANDERLEY, Sonia. O entrelugar do aprendizado escolar de História: uma perspectiva de História Pública. Revista História Hoje, v. 9, n. 18, p. 125-144, dez. 2020.

WINEBURG, Sam. Historical Thinking and Other Unnatural Acts: Charting the Future of Teaching the Past. Philadelphia: Temple Univ. Press, 2001.

WINEBURG, Sam. Porque o pensamento histórico não é sobre História. OPSIS, UFG, v. 19, n. 2, p. 1-5, dez. 2019.

ZOLIN, Beatriz. Geração sem perspectiva: os efeitos do isolamento social na adolescência. Portal Drauzio Varella. (Site). Publicado em: 1° set. 2021. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/geracao-sem-perspectiva-os-efeitos-do-isolamento-social-na-adolescencia/. Acesso em: 5 fev. 2023.

Downloads

Publicado

2023-06-20

Como Citar

Sousa, F. G. de, & Moerbeck, G. G. (2023). Cultura digital e competência narrativa nas humanidades: os arquivos como redes e as redes como arquivos no trabalho escolar. Revista Maracanan, (32), 208–230. https://doi.org/10.12957/revmar.2023.73138