As vantagens de ser um outsider: uma reflexão sobre a dinâmica do campo intelectual do pós-Guerra a partir de Norbert Elias

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2023.69641

Palavras-chave:

Norbert Elias, Outsider, Guerra Fria, Campo intelectual, Liberalismo

Resumo

O presente artigo procura analisar a emergência e consolidação de uma zona híbrida de legitimação intelectual a partir dos anos 1940 e das reconfigurações no próprio conceito de universidade que a Guerra Fria engendra. Essa análise é feita levando em conta a rede de intelectuais liberais que se agruparam em torno da Mont Pèlerin Society. Quero sugerir que essa dinâmica altera significativamente o significado público da posição de outsider, positivando-o em comparação ao discurso professoral clássico da universidade. A hipótese é que essa mudança de percepção valorativa sobre a condição social dos outsiders nos ajuda a compreender as dinâmicas contemporâneas de crítica e crise da universidade, bem como a emergência de instâncias paralelas de enunciação do conhecimento, algumas delas pouco comprometidas com os procedimentos e metodologias científicas. Para realizar o cotejo entre essas duas dimensões – uma propriamente histórica e outra de ordem conceitual – sugiro um percurso crítico à algumas obras do sociólogo alemão Norbert Elias.

Biografia do Autor

Alexandra Dias Ferraz Tedesco, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História. Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas; Mestre e graduada em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

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Publicado

2023-06-20

Como Citar

Tedesco, A. D. F. (2023). As vantagens de ser um outsider: uma reflexão sobre a dinâmica do campo intelectual do pós-Guerra a partir de Norbert Elias. Revista Maracanan, (32), 84–102. https://doi.org/10.12957/revmar.2023.69641