As vantagens de ser um outsider: uma reflexão sobre a dinâmica do campo intelectual do pós-Guerra a partir de Norbert Elias
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2023.69641Palavras-chave:
Norbert Elias, Outsider, Guerra Fria, Campo intelectual, LiberalismoResumo
O presente artigo procura analisar a emergência e consolidação de uma zona híbrida de legitimação intelectual a partir dos anos 1940 e das reconfigurações no próprio conceito de universidade que a Guerra Fria engendra. Essa análise é feita levando em conta a rede de intelectuais liberais que se agruparam em torno da Mont Pèlerin Society. Quero sugerir que essa dinâmica altera significativamente o significado público da posição de outsider, positivando-o em comparação ao discurso professoral clássico da universidade. A hipótese é que essa mudança de percepção valorativa sobre a condição social dos outsiders nos ajuda a compreender as dinâmicas contemporâneas de crítica e crise da universidade, bem como a emergência de instâncias paralelas de enunciação do conhecimento, algumas delas pouco comprometidas com os procedimentos e metodologias científicas. Para realizar o cotejo entre essas duas dimensões – uma propriamente histórica e outra de ordem conceitual – sugiro um percurso crítico à algumas obras do sociólogo alemão Norbert Elias.
Referências
ARON, Raymond. El ópio de los intelectuales. Tradução Enrique Alonso. Barcelona: RBA, 2011.
ARONSON, Ronald. Camus & Sartre: o polêmico fim de uma amizade no pós-guerra. Tradução Caio Liudvik. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
BLOOM, Allan. The Closing of the American Mind. New York: Simon and Schuster, 1988.
BOS, Jaap. Types of Marginalization and Their Constitutive Relationship to Discourse. L'Homme et la société., v. 167-168-169, issue 1-2-3, p.177-201, 2008.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: Uma crítica social da faculdade do juízo. Tradução Pedro Durte. Lisboa: Ed. 70, 2010.
BOURDIEU, Pierre. Homo Academicus. Buenos Aires: Siglo XXI, 2008.
BROWN, Wendy. In the Ruins of Neoliberalism: The Rise of Antidemocratic Politics in the West. Columbia: Wellek Library Lectures, 2018.
BUCKLEY, W.; CHAMBERLAIN, J. God and man at Yale: the superstitions of academic freedom. Chicago: Henry Regnery, 1951.
BUTLER, Eammon. A short story of the Mont Pèlerin Society. From the past to the future: ideas and actions for a free Society. Stanford: Hoover Institute, 2000.
CASANOVA, Pascale. A republica mundial das letras. Tradução Marcia Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
CHARLE, Christophe. La République des Universitaires. 1870-1940. L´Universe Historique. Paris: Éd. du Seuil, 1994.
CHARLE, Christophe. The birth of intellectuels. London: Polity Books, 2015.
COLLINI, Stefan. Speaking of Universities. London: Verso, 2017.
COSER, Lewis. Hombres de ideas. El punto de vista de um sociólogo. Tradução Ivonne de la Peña. Ciudad de Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1968.
DEWULF, F.; SIMONS, M. Positivism in Action: The Case of Louis Rougier. HOPOS: The Journal of the International Society for the History of Philosophy of Science, v. 11, n. 2, 2021.
ELIAS, Norbert; SCOTTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
ELIAS, Norbert. Mozart. Sociologia de um gênio. Organizado por Michael Schrõter. Tradução Sérgio Góes de Paula. Revisão técnica, Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
ELIAS, Norbert. Scientific establishments. In: ELIAS, N.; MARTINS, E.; WHITLEY, R. (Orgs.). Scientific Establishments and Hierarquies. Dordrecht: D. Rieder, 1982.
GAITHER, Milton. Homeschool. An american history. Pensilvania: Palgrave, 2017.
GROOT, Jerome De. Consuming History Historians and heritage in contemporary popular culture. Abingdon: Routledge, 2009.
HAYEK, Friedrich. Caminho à servidão. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990.
HOSFTADTER, Richard. Anti-Intellectualism in American Life. New York: Random House, 2012.
JAY, Martin. Permanent Exiles. Essays on the intelectual migration from Germany to America. New York: Columbia Univ. Press, 1986.
KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Uma contribuição a patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999.
LEPENIES, Wolf. Las tres culturas: La sociologia entre la literatura y la ciéncia. Ciudad de Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1985.
LEPENIES, Wolf. Norbert Elias: An outsider full of unprejudiced insight. New German Critique, v. 15, p. 57-64, 1978.
MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 37, n. 74, 2017.
MIROWSKI, P.; PLEHWE, D. The road from Mont Pèlerin: The making of the neoliberal thought collective. Cambridge: Harvard Univ. Press, 2009.
MIROWSKI, Philip. Postface: Defining Neoliberalism. In: MIROWSKI, P.; PLEHWE, D. The road from Mont Pèlerin: The making of the neoliberal thought collective. Cambridge: Harvard Univ. Press, 2009.
MISES, Ludwig Von. The anticapitalistic mentality. Pensilvania: Libertarian, 1972.
NICOLAZZI, Fernando. A história e seus passados. Regimes historiográficos e escrita da história. In: BENTIVOGLIO, Julio; NASCIMENTO, Bruno César (Orgs.). Escrever história. Historiadores e historiografia brasileira nos séculos XIX e XX. Vitória: Milfontes, 2017.
NICOLAZZI, Fernando. Brasil Paralelo: restaurando a pátria, resgatando a história. A Independência entre memórias públicas e usos do passado. (Apresentação) - Seminário: 1822 – Independência: Memória e Historiografia (24-28 de maio de 2021).
ONOFRE, Gabriel da Fonseca. O papel dos intelectuais e Thinktanks na propagação do liberalismo econômico na segunda metade do século XX. 2018. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ), 2018.
PAUL, Herman. What is a scholarly persona? Ten theses on Virtues, Skills and Desires. History and Theory, Wesleyan University, v. 53, n. 3, p. 348-371, out. 2014.
RINGER, Fritz K. O Declínio dos Mandarins Alemãs. São Paulo: EDUSP, 1999.
RODRIGUES, L. S. Uma revolução conservadora dos intelectuais (Brasil/2002-2016). Política & Sociedade, Florianópolis, v. 17, n. 39, maio-ago. 2018.
SAID, Edward. Representações do Intelectual. Conferencias Reith de 1993. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SARTRE, Jean-Paul. Que é Literatura? São Paulo: Ática, 1989.
SCOTT-SMITH, Giles. The politics of apolitical culture. The Congress for cultural freedom, the CIA and the Post-war American Hegemony. London: Routledge, 2002.
SENNET, Richard. O declínio do homem público. Rio de Janeiro: Record, 2014.
SHAPIN, Stevan. É verdade que estamos vivendo uma Crise da Verdade? Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 308-319, jul.-dez. 2020.
SHAPIN, Stevan. The Scientific Life: a modern history of a late modern vocation. Chicago: Univ. of Chicago Press, 2008.
TOURAINE, Alain. The academic system in American society. New Jersey: Mc Graw Hill, 1997.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
São automaticamente cedidos à Revista Maracanan os direitos de primeira publicação sobre originais e traduções nela submetidos. Os dados e conceitos abordados são da exclusiva responsabilidade dos autores, mentendo-se os direitos destes.
Todos os trabalhos publicados estão licenciados como Creative Commons Attribution 4.0 International (CC-BY-4.0).
Esta licença permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original. É a licença mais flexível de todas as licenças disponíveis. É recomendada para maximizar a disseminação e uso dos materiais licenciados.
Ver o Resumo da Licença | Ver o Texto Legal