Esvaziando corpos, deslegitimando práticas: o processo de desqualificação dos saberes ciganos na época moderna

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/intellectus.2025.90020

Palavras-chave:

ciganas, cura, saberes populares, modernização, leitura da sorte

Resumo

 O objetivo do presente artigo é levantar algumas questões sobre a reprodução de imagens modernas que vinculam cultura cigana, leitura da sorte e saberes místicos-esotéricos. O recurso às técnicas adivinhatórias foi historicamente atribuído às mulheres ciganas como meio pelo qual interagiam com a população não-cigana e conseguiam auferir ganhos materiais para reproduzir economicamente seu modo de vida. A partir da referência a fontes coevas, obras artísticas, literárias, estudos comparativos historiográficos e antropológicos, pretende-se problematizar a associação das técnicas de adivinhação imputadas às mulheres ciganas e a constituição de um discurso desqualificador dos saberes populares de cura e auto-defesa contra-colonial que marcaram o início da época moderna. O objetivo é contribuir com o debate contemporâneo sobre a discriminação com vista ao reconhecimento dos saberes populares.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Juliana Henrique, Universidade de São Paulo

Graduada (2011), Mestre (2014) e Doutora (2020) em História pelo programa de pós-graduação em História Econômica do Departamento de História (DH) da Universidade de São Paulo (USP). Psicanalista, participante das Formações Clínicas do Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo (FCL-SP), participante da Rede Clínica Jacques Lacan (IP-USP), pesquisadora convidada do Fórum do Campo Lacaniano - Curitiba. Possui experiência em pesquisas na área de História do Brasil Colonial, História Moderna e Contemporânea, Relações Inter-Raciais, Interseccionalidade, Violência de Gênero e Subjetividade (Pós) Moderna.

Referências

Fonte Manuscrita

OUVIDORIA Geral do Crime. Bahia, 3 de junho de 1768, Maço 175. (Seção Colonial do Arquivo Municipal de Salvador).

Fontes Impressas

BLUTEAU, Raphael (1789). Diccionario da lingua portugueza. Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira. Volume 1. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2025.

COELHO, Francisco Afonso Coelho (1892). Os Ciganos de Portugal com um estudo sobre o calão. Lisboa, Imprensa Nacional.

PEREIRA, Nuno Marques Pereira (1760). Compêndio narrativo do peregrino da América. Volume 1. Lisboa, Officina de Antonio Vicente da Silva. Disponível em: <https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4139>. Acesso em: 18 fev. 2025.

Referências bibliográficas

ALMANDOZ, Iñigo Migliaccio (2012). Pensamiento mágico, racionalidad y formas de dominación in: XVII Congreso de Estudios Vascos: Gizarte aurrerapen iraunkorrerako berrikuntza. Donostia: Eusko Ikaskuntza, pp. 1063-1079. Disponível em: . Acesso: 18 fev. 2025.

ANDRADE JUNIOR, Lourival (2008). Da barraca ao túmulo: cigana Sebinca Christo e as construções de uma devoção. Tese (Doutorado em História). Universidade do Paraná: Curitiba.

ARANTES, Paulo (2014). O novo tempo do mundo. São Paulo: Boitempo.

ASSÉO, Henriette (2007). L'invention des “nomades” en Europe au XX siècle et la nationalisation impossible des tsiganes. In: NOIRIEL, Gérard (éd.) L'identification. Genèse d'un travail d'Etat. Paris/ Berlin: Coll. Socio- historie, pp. 161-180.

BAREUTHER, Johannes (2014). O androcentrismo da razão dominadora da natureza: natureza demoníaca e natureza mecânica (Parte 1). Exit! Crise e Crítica da Sociedade da mercadoria, n. 12. Disponível em: <http://www.obeco-online.org/joahnnes_bareuther1.htm >. Acesso em 18.fev. 2025.

BODEI, Remo (1997). Geometria de las passiones: miedo, esperanza, felicidad: filosofia y uso politico. México: Fondo de Cultura Económica.

BOURQUE, Danièle (2008). Pour un autre modèle d'analyse du tarot. Thèse (Doctorat en Sciences des Religions), Université du Québec: Montréal.

CALAINHO, Daniela Buono (2008). Metrópole das mandingas: religiosidade negra e Inquisição portuguesa no Antigo Regime. Rio de Janeiro: Garamond.

CASTRO, Eduardo Viveiros de (2012). O medo dos outros. Revista de Antropologia, 54 (2). Disponível em: <https://revista.usp.br/ra/article/view/39650. Acesso: 17.jun.2025.

DHIER, Alejandro Martínez(2011). Los gitanos em andalucia em el antiguo régimen: de peregrinos a marginados. In: CASTAÑO, F. J. Garcia; IORDANISHVILI, N. Kessova. (coords.). Actas del I Congreso Internacional sobre Migraciones em Andalucia. Granada, Instituto de Migraciones, pp. 2107-2117. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4049863>. Acesso: 18 fev. 2025.

FANJUL, Serafín (2006). Gitanos y Mouriscos. In: La quimera de al-Andalus. Madrid: Siglo XXI, pp. 94-116.

FERRARI, Florência (2010). O mundo passa: uma etnografia dos Calon e suas relações com os brasileiros. Tese (Doutorado em Antropologia Social). Universidade de São Paulo: São Paulo.

FOUCAULT, Michel (2008). Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes.

FRASER, Angus (2007). The Gipsies. Malden: Blackwell.

GEREMEK, Bronislaw (1995). Os filhos de Caim: vagabundos e miseráveis na literatura europeia (1400- 1700). São Paulo: Companhia das Letras.

GONZALEZ, Lélia (1988). Nanny: pilar da amefricanidade. In: Humanidades, n.17, ano IV, Universidade de Brasília: Brasília, pp. 23-25.

HASDEU, Iulia (2008). “Corps et vêtements des femmes rom en Roumaine. Un regard anthropologique.” In: Etudes Tsiganes. Etre une femme dans le monde tsigane. v.1, n. 33/34, pp. 60-77. Disponível em: <https://shs.cairn.info/revue-etudes-tsiganes-2008-1-page-60?lang=fr>. Acesso: 18 fev. 2025.

ITOKAZU, Anastasia Guidi (2023). Caça às bruxas: o caso de Katarina Kepler. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, v.7, n. 4, pp-1-11. Disponível em: <http://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/caca-as-bruxas-o-caso-katarina-kepler/>. Acesso em 18 fev. 2025.

KOSELLECK, Reinhart (2014). Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto.

MANCINI, Silvia (dir.) (2008). La frabicación del Psiquismo. Libros de la Araucaria, Buenos Aires.

MANCINI, Silvia (2013). Para un enfoque constructivista filosofico y el objetivismo cientificista. Reflexiones epistemológicas y políticas a partir de una propuesta teórica italiana. Conferencia inaugural al VII Encuentro Internacional de estudio Sociorreligiosos Religion, utopía y alternativas ante los dilemas de la contemporaneidad, La Habana, del 2 al 5 de Julio.

MARTINEZ, Manuel Martinez (2014). Los gitanos y las gitanas de España a mediados del siglo XVIII. El fracasso de un projecto de “exterminio” (1748-1765). Editorial Universidad de Almeria: Almeria.

MARX, Karl (2009). El Capital. Libro I, capítulo VI (inédito). México: Siglo XXI.

MEYER, Marlyse (1993) Maria Padilha e toda a sua quadrilha: de amante de um rei de Castela a pomba-gira da Umbanda. São Paulo: Duas Cidades.

MOLLAT, Michel (1989). Os pobres na Idade Média. Rio de Janeiro: Campus.

ORTEGA, Maria Helena Sánchez (1998). La Inquisicion y los gitanos. Madrid: Taurus.

PARKER, Geoffrey (2013), The military revolution: military innovation and the rise of the west, 1500-1800, Cambridge: Cambridge University Press.

PETCU, Siviu (2007). Le rôle des esclaves Rroms dans la vié économique des principautés roumaines de Muntenie et de Moldavie. Études Tsiganes. L'esclavage des Rroms. n. 29. pp. 72-79. Disponível em: . Acesso: 18 fev. 2025.

PIERONI, Geraldo (2000) Vadios e ciganos, heréticos e bruxas: os degredados no Brasil-colônia. Rio de Janeiro: Paco Editorial.

POSTONE, Moishe (2004). Tempo, trabalho e dominação social: uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. São Paulo: Boitempo.

RAPISARDA, Stefano (2005). Manuali Medievali di Chiromanzia. Roma: Carocci.

RUBLACK, Ulinka (2015). The astronomer and the witch. Johannes Kepler´s fight for his mother. Oxford: Oxford University Press.

SAINZ, Julio Vérez (2014). “De lo científico a lo folclorico: Astrólogos y Astrologia em el teatro renascentista”. In: Bulletin of the Comediantes. vol. 66, n. 1. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/285902773_De_lo_cientifico_a_lo_folclorico_Astrologos_y_Astrologia_en_el_teatro_renacentista >. Acesso em: 18 fev. 2025.

SCHOLZ. Roswitha (2014). Homo Sacer e os Ciganos. O Anticiganismo – reflexões sobre uma variante essencial e por isso esquecida do racismo moderno. Lisboa: Antígona.

SOUZA, Maraísa Lisboa de (2017). Atualização e manutenção da identidade étnica: etnografia sobre o processo de conversão religiosa de ciganos em Cruz das Almas/BA. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Recôncavo Baiano: Cachoeira.

WALKER, Timothy (2005). Doctors, folk medicine and the Inquisition: the repression of magical healing in Portugal during the Enlightenment. Leiden: Brill.

Downloads

Publicado

2025-07-10

Como Citar

HENRIQUE, Juliana. Esvaziando corpos, deslegitimando práticas: o processo de desqualificação dos saberes ciganos na época moderna. Intellèctus, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, p. 233–255, 2025. DOI: 10.12957/intellectus.2025.90020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/intellectus/article/view/90020. Acesso em: 25 jul. 2025.