Segurança Alimentar e nutricional na Tekoa Pyau, aldeia guarani do município de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.12957/demetra.2023.68531Palavras-chave:
Segurança Alimentar e Nutricional. Etnografia. Povo Guarani.Resumo
Introdução: Os Guarani da Tekoa Pyau, aldeia localizada no município de São Paulo, estão confinados em uma pequena área ameaçada por disputas territoriais e com intensa urbanização no entorno. Esses fatores dificultam as atividades tradicionais e permitem afluxo crescente de pessoas e mercadorias da cidade, fazendo com que a vida na aldeia não prescinda de produtos industrializados, afetando questões políticas, ambientais, econômicas, espirituais, sociais e de saúde. As compreensões sociocosmológicas que orientam saberes e práticas relacionadas à alimentação no contexto podem ser potentes ferramentas de promoção de alianças entre sistemas próprios de alimentação e a política nacional. Objetivo: Debater Segurança Alimentar e Nutricional com interface das políticas públicas na aldeia e realizar proposições para sua efetividade. Método: A etnografia foi escolhida para compreender um mundo em que as práticas alimentares só podem ser apreendidas em seus significados locais. Resultados: Os Guarani categorizam os alimentos em “mortos” (os que foram comprados nos mercados e enfraquecem os corpos) e “vivos” (os extraídos da natureza que os fortalecem). Entre os “vivos” existe o avaxi etei (‘milho verdadeiro’), dádiva de Nhanderu (‘Nosso Pai’, divindade) e base da alimentação tradicional; entre os “mortos”, estão os ultraprocessados. Conclusão: Ao analisar os dados, pondera-se mau uso de gerência pública com distribuição inadequada de fórmulas infantis, invisibilidade política e alimentação escolar sem afinidade com a alimentação tradicional. Para construir políticas públicas, é importante considerar o vínculo entre a alimentação e a cosmologia e compreender as práticas de saúde dos Guarani.
Downloads
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política nacional de alimentação e nutrição. Brasília, DF, 2012. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
MACEDO, V. O mundéu do mundo. Predação e troca nas relações com os brancos. In: GALLOIS, DT. e MACEDO, M. Nas redes Guarani. Saberes, traduções e transformações. São Paulo: Hedra; 2017.
COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO. A cidade como local de afirmação dos direitos indígenas. São Paulo, 2013.
LADEIRA, MI. Espaço Geográfico Guarani-Mbyá: significado, constituição e uso [tese]. [São Paulo]: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo; 2001. 236 p.
PISSOLATO, EP. Mobilidade, multilocalidade, organização social e cosmologia: a experiência de grupos Mbya-Guarani. Tellus. 2004 Abril; 4(6):65-78.
RAMO Y AFFONSO, AM. O que nos levanta sobre a terra: alegria e saudade fazendo parentesco. In GALLOIS, DT. e MACEDO, M. Nas redes Guarani. Saberes, traduções e transformações. São Paulo: Hedra; 2017.
MONTEIRO, CA. et al. NOVA. the star shines bright [Food classification. Public health]. World nutrition, 2016; 7(1-3): 28-38.
KEPPLE, AW. et al. O estado da segurança alimentar e nutricional no Brasil: um retrato multidimensional. Relatório 2014. Brasília; 2014. p. 90.
ATHILA, AR, LEITE, MS. “A medida da fome”: as escalas psicotrométricas de insegurança alimentar e os povos indígenas no Brasil. Cad Saude Publica. 2020; 36(10).
GARNELO, L, WELCH, JR. Transição alimentar e diversidade cultural: desafios à política de saúde indígena no Brasil. Cad Saude Publica. 2009; 25(9):1872-1873.
MAYMONE, CMM. Tradição como transformação: práticas e conhecimentos sobre alimentação entre os Guarani na Tekoa Pyau (São Paulo/SP) [dissertação]. [São Paulo]: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2017. 152p.
NOGUEIRA da SILVA, F de O. Do Tekoa Pyau à nova aldeia: sujeitos em movimento na produção do espaço local [tese]. [São Paulo]: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo; 2015.
PIMENTEL, SK. (Colab.) et al. Relatório circunstanciado de identificação e delimitação da Terra Indígena Jaraguá. Brasília; 2010. 521p. (Ministério da Justiça. Fundação Nacional do Índio).
CARDOSO, AM. et al. Prevalência de fatores de risco para doença de cardiovasculares na população Guarani-Mbya do Estado do Rio de Janeiro. Cad Saude Publica, 2001; 17(2): 345-352.
FREEDMAN, I. Cultural specificity in food choice – The case of ethnography in Japan. Appetite, 2016; 96: 138-146.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
MALINOWSKI, B. Argonautas do pacífico ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1976 [1922].
TEMPASS, MC. “Quanto mais doce melhor”: Um estudo antropológico das práticas alimentares da doce sociedade Mbya-Guarani [tese]. [Porto Alegre]: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
RAMO y AFFONSO, AM. (Org.). Guata Porã: belo caminhar. São Paulo: CTI, 2015.
PISSOLATO, E. P. A duração da pessoa: mobilidade, parentesco e xamanismo mbya (guarani). São Paulo: Editora da UNESP; 2007
BELLINGER, C, ANDRADE, LMM de. Alimentação nas escolas indígenas: desafios para incorporar práticas e sabres. São Paulo: Comissão Pró-Índio; 2016.
REA, MF. Substitutos do leite materno: passado e presente. Rev Saude Publica. Junho de 1990; 24 (3): 241-249.
PISSOLATO, E. P. Parentesco e emoções: algumas conexões no alegrar-se. In: GALLOIS, DT. e MACEDO, M. Nas redes Guarani. Saberes, traduções e transformações. São Paulo: Hedra 2018.
BRASIL. Presidência da República. Decreto n° 7.272, de 25 de agosto de 2010. Regulamenta a Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional [SISAN] com vistas a assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada e institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 ago. 2010. Seção 1, p.6.
CARNEIRO da CUNHA, M. Políticas culturais e povos indígenas. In: CARNEIRO da CUNHA, M; CESARINO, P de N. (Orgs.). Políticas culturais e povos indígenas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. p. 9-21.
FELIPIM, A. P. O sistema agrícola Guarani Mbya e seus cultivares de milho: um estudo de caso na aldeia guarani da Ilha do Cardoso, município de Cananéia, SP [dissertação]. [Piracicaba]: Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” da Universidade de São Paulo; 2001. 135p.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Milho Guarani compõe cardápio alimentar das escolas indígenas de Itanhaém – SP. Disponível em < http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/4079-milho-guarani-compoe-cardapio-alimentar-das-escolas-indigenas-de-itanhaem-sp >. Acesso em: 09 fev. 2017.
BRASIL. Ministério do desenvolvimento social e combate à fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF, 2012.
NASCIMENTO, I. S. Segurança alimentar e etnodesenvolvimento na Terra Indígena Panambizinho [dissertação]. [Brasília]: Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, 2013.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Título do manuscrito: __________________________________________________________________
1. Declaração de responsabilidade
Certifico minha participação no trabalho acima intitulado e torno pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo.
Certifico que o manuscrito representa um trabalho original e que nem este ou quaisquer outros trabalhos de minha autoria, em parte ou na integra, com conteúdo substancialmente similar, foi publicado ou foi enviado a outra revista.
Em caso de aceitação deste texto por parte de Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, declaro estar de acordo com a política de acesso público e de direitos autorais adotadas por Demetra, que estabelece o seguinte: (a) os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial neste periódico; (b) os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (p.ex., publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista; e (c) os autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (p.ex., em repositórios institucionais ou em sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
2. Conflito de interesses
Declaro não ter conflito de interesses em relação ao presente artigo.
Data, assinatura e endereço completo de todos os autores.