pensar outros possíveis entre infâncias e necropolíticas
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.59100Keywords:
Infância, necropolítica, outros possíveis, educaçãoAbstract
Ao se objetivar a publicação do presente dossiê, intenta-se colocar em cena uma série de investigações cujos desafios e cujas abordagens, problematizações e experimentações levem em consideração o amplo espectro da necropolítica. Entretanto, ao se enfatizar os lugares das infâncias contemporâneas em tal cenário, sublinha-se o complexo nódulo que as crianças negras ocupam na necropolítica. Numa via, pelo fato de serem, contra suas vontades, capacidades humanas e decisões, herdeiras de uma situação histórico-social de matriz necropolítica. As crianças negras, assim, nascem territorializadas num contexto necropolítico inequívoco. Em outra via, as crianças compõem relevante aceno na formação de estratégias de tensão e de modificação nos quadros necropolítico. Se as crianças aprendem a ser racistas, desde a mais precípua socialização, na ampla lógica necropolítica, também podem aprender a não ser racistas. Indagar por outros possíveis, tomando por centralidade as crianças, é atentar-se para toda experimentação que as crianças são capazes de empreender como desterritorialização necropolítica. Para tanto, sustenta-se que outros possíveis para uma comunidade de vida, movida por políticas de afetos, sensíveis às singularidades e diferenças humanas, produzindo valores para além da cova profunda da herança maldita colonial, não se faz sem a educação. Assim, a sucessão dos artigos que este dossiê apresenta, por perspectivas múltiplas e diferentes, com abordagens peculiares e preocupações próprias, tonalizando ênfases variadas e originais, traz um esforço coletivo de se produzir outros possíveis para as crianças no mundo contemporâneo.
Palavras-chave: Infâncias, necropolítica, outros possíveis, educação
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