infância e alteridade: experiência e criação na relação entre crianças e adultos
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67716Palavras-chave:
Infância, alteridade, expressões infantisResumo
O objetivo desse trabalho é dar visibilidade e refletir sobre as manifestações das crianças na perspectiva da alteridade, confrontando um olhar que, na concepção moderna, tem afirmado a infância na perspectiva da falta e negatividade. Desse modo, as experiências empíricas são destacadas, especialmente, nas relações das autoras com as crianças como pesquisadoras (em uma pesquisa de doutoramento) e como docentes na educação infantil. A pesquisa de doutorado se deu com dois grupos de crianças entre quatro a seis anos de idade, em espaços de educação infantil em dois contextos distintos e desiguais socialmente: um grupo de crianças moradoras em uma favela e outro de classe média/alta. Os registros foram produzidos a partir da interação com as crianças em situações de brincadeira, entrevistas individuas e coletivas, fotografias e trocas de fotografias. Na interlocução com a Filosofia, a Sociologia da Infância e a Geografia da Infância, buscamos refletir sobre como as crianças significam suas experiências e como anunciam novas possibilidades de se relacionar com a cultura escolar. A brincadeira é trazida como experiência que as une como grupo social, independente das condições desiguais que os contextos oferecem, pela qual é possível criar rotas de fuga, transver os limites institucionais, exercer a alteridade e produzir alegria. As expressões de alteridade das crianças ainda podem ser percebidas nas formas genuínas com que exercem suas relações com os espaços e tempos. Assim, os espaços se convertem em lugares e territórios de infância, a partir dos sentidos atribuídos que interrogam os convencionalmente instituídos pelos adultos; o tempo é vivido pelas crianças na perspectiva da experiência e da reiteração, o que confronta o tempo cronológico, linear, das rotinas rígidas e padronizadas. Enfim, olhar a infância a partir da perspectiva da alteridade, nos provoca a pensar e produzir outros modos de relação entre adultos-crianças, para além de uma perspectiva colonizadora e tutelar, mas como abertura e reinvenção.
Downloads
Referências
Agamben, Giorgio. Infância e história. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2001.
Agostinho, Kátia Adair. O espaço da creche: que lugar é este? Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
Arenhart, Deise. Culturas infantis e desigualdades sociais. Petrópolis: Vozes, 2016.
Ariès, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
Barros, Manoel de. Memórias inventadas. As infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.
Benjamin, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Summus, 1984.
Corsaro, William A. Entrada no campo, aceitação e natureza da participação nos estudos etnográficos com crianças pequenas. In: Educação e Sociedade: Revista de Ciência da Educação, vol. 26, p. 443-464, maio/ago-2005.
Corsaro, William A. Sociologia da Infância. 2. ed. Tradução: Lia Gabriele Regius Reis.
Porto Alegre: Artmed, 2011.
Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. IV. São Paulo: Editora 34, 1997.
Ferreira, Maria Manuela M. A gente aqui o que gosta mais é de brincar com os outros meninos: as crianças como atores sociais e a (re) organização social do grupo de pares no quotidiano de um Jardim de Infância. Dissertação (Doutoramento em Ciências da Educação). Universidade do Porto, Porto, 2002.
Gagnebin, Jean Marie. História e Narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva/FAPESP, 1994.
Kennedy, David. Notas sobre a Filosofia da infância e a política da subejtividade In: Kennedy David & Kohan Walter (orgs). Filosofia e Infância: possibilidades de um encontro. Petrópolis RJ: Vozes, 1999. p. 75-87.
Kohan, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Kohan, Walter Omar. Infância, estrangeiridade e ignorância. Belo Horizonte: Autência, 2007.
Larrosa, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Porto Alegre: Editora Contrabando, 1998.
Lopes, Jader Janer. O ser e estar no mundo: a criança e sua experiência espacial. In: Lopes, J. J. M; Mello, M. B. “O jeito de que nós crianças pensamos sobre certas coisas”: dialogando com lógicas infantis. Rio de Janeiro: Rovelle, 2009.
Pereira, Maria Rita Ribes; Souza, Solange. Infância, conhecimento e contemporaneidade. In: Kramer, S; Leite, M. I. Infância e produção cultural. Campinas: Papirus, 1998.
Sarmento, Manuel Jacinto. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: Sarmento, M. J.; Cerisara, A. B. (orgs.). Crianças e miúdos: perspectivas sócio-pedagógicas da Infância e Educação. Porto: Asa, 2004.
Sarmento, Manuel Jacinto. Gerações e alteridade. Interrogações a partir da Sociologia da Infância. Educação e Sociedade: Revista de Ciência da Educação. Campinas, v. 26, n. 91. p. 361-378, maio/ago., 2005.
Vasconcellos, Tania. Um minuto de silêncio: ócio, infância e educação. In: Lopes, J. J. M e Mello, M. B. “O jeito de que nós crianças pensamos sobre certas coisas”: dialogando com lógicas infantis. Rio de Janeiro: Rovelle, 2009.