infância: pedagogia ou educação?

Resumo

Eu enderecei fortes críticas à pedagogia, dela tomando distância, para lhe opor uma noção mais neutra de "educação". Em suma: não há dúvidas de que a infância deva ser educada, mas não é necessário nem universalizável que ela deva ser submetida a uma pedagogia, a um "dispositivo pedagógico." Defini a pedagogia de maneira precisa e restritiva: uma educação sob a condução de um adulto que conduz a criança (o pedagogo). Deve-se notar, no entanto, que esta palavra no seu uso clássico e contemporâneo já não tem o mesmo significado que na Grécia antiga. Da noção de pedagogia, retenho a noção de vigilância, associada à de funções especificamente educativas e a métodos próprios para levar o aluno a aprender de bom grado, a "capturá-lo" ou "captá-lo", a seduzi-lo. Mas em ambos os casos, encontra-se o mesmo tipo de dispositivo. Apenas invertido. É preciso conceber os dispositivos - isso é o que diz Deleuze a propósito de Foucault - como linhas, vetores que irão suscitar e dar lugar, a cada vez, a depender de cada problema, a instituições específicas. Essas linhas não traçam contornos bem definidos; elas não circunscrevem ou limitam, mas percorrem, atravessam e reúnem o que foi organizado de outra forma ou que subsistiu de maneira dispersa. Elas assim fazem aparecer uma nova configuração. Entre os contemporâneos, acho que Pasolini foi o único a ver e a expressar o que é o atual processo de pedagogização da infância que, ao mesmo tempo, é: processo de subjetivação e indicação de uma eventual possibilidade de reversão de poder; ou, em outras palavras, uma revolução pedagógica que permite à criança conquistar essa autonomia que, constantemente, lhe é prometida e é sempre recusada. Pasolini esboçou uma nova pragmática em oposição a todas as doutrinas de ensino.