o paradoxo da filosofia para crianças e como resolvê-lo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2020.46431

Palavras-chave:

filosofia para crianças (p4c), aprendizagem centrada no aluno, imaginação, método sir

Resumo

Existe um paradoxo na ideia de filosofia para crianças (P4C). O bom ensino começa do concreto e do particular e envolve os interesses, crenças e experiências individuais de cada aluno. Os pré-adolescentes (e até certo ponto todos) acham essa abordagem mais natural que outra mais impessoal e respondem melhor a ela. Mas fazer filosofia envolve focar no abstrato e no geral e, algumas vezes, se desapegar dos interesses e crenças pessoais de alguém para raciocinar a partir da perspectiva de outros. Envolve criticar as atitudes, ver relações abstratas e aplicar princípios gerais. Portanto, se, em termos gerais, o bom ensino se concentra no concreto e no pessoal, e a boa filosofia no abstrato e no geral, como pode haver um bom ensino de filosofia para as crianças? Eu chamo isso de paradoxo da filosofia para crianças e, neste artigo, exploro como os professores devem responder a ele. Deveriam sacrificar as boas práticas de ensino, adotando uma abordagem fortemente centrada no professor, a fim de corrigir os preconceitos naturais de seus alunos? Deveriam diminuir suas expectativas sobre quais habilidades filosóficas as crianças podem adquirir? Mais ainda: deveriam sequer tentar ensinar filosofia às crianças? O artigo argumentará que existe uma opção melhor, que se baseia nas habilidades imaginativas das crianças. A ideia central é que, incentivando as crianças a se identificarem imaginativamente com outras perspectivas, podemos usar seu foco natural no concreto e no particular para ajudá-las a adotar maneiras de pensar mais abstratas e críticas. Dessa maneira, seu foco no concreto e no pessoal pode ser o meio exato para fazê-las pensar de maneira mais abstrata e crítica. O artigo continuará delineando uma estratégia geral para implementar essa abordagem, o método Cenário-Identificação-Reflexão (SIR), que será ilustrado com exemplos extraídos da própria prática em sala de aula da autora. O artigo também responderá a algumas objeções à estratégia proposta e oferecerá algumas reflexões gerais sobre o método SIR.

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Biografia do Autor

maria kasmirli, 1) universidade de sheffield, reino unido 2) escola de educação européia, heraklion, grécia

Maria Kasmirli é uma filósofa e professora. Atualmente é Pesquisadora Honorária da Universidade de Sheffield, Reino Unido, e professora da Escola de Educação Européia em Heraklion, Creta, Grécia. A pesquisa de doutorado de Maria foi sobre a abordagem grega da implicatura conversacional e ela continua trabalhando na filosofia da linguagem e da comunicação, especialmente em questões relacionadas ao consentimento. Ela também tem interesse em filosofia da educação e está trabalhando na teoria e na prática do ensino de filosofia para crianças (P4C), aproveitando sua vasta experiência como professora da organização das Escolas Europeias.

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Publicado

2020-03-26

Como Citar

KASMIRLI, Maria. o paradoxo da filosofia para crianças e como resolvê-lo. childhood & philosophy, Rio de Janeiro, v. 16, n. 36, p. 01–24, 2020. DOI: 10.12957/childphilo.2020.46431. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/childhood/article/view/46431. Acesso em: 1 maio. 2025.

Edição

Seção

dossier: philosophy and childhood: theory and practice