o círculo mágico e a arte de deixar-se repetir na infância: exercitação e aprendizagem nas esferas
DOI:
https://doi.org/10.12957/childphilo.2018.31728Palavras-chave:
Antropotécnica, Infância, EsferologiaResumo
A inquietude moderna pela formação humana se articulou ao redor de perguntas cruciais pelos exercícios, comportamentos, rotinas, hábitos que são acionados a fim de dar às crianças uma forma determinada, modelando o futuro do infans através de atividades repetidas e reguladas, ao mesmo tempo em que se domestica as forças autoplásticas que interagem na configuração de toda vida. Não casualmente, Peter Sloterdijk apreende a modernidade como uma forma de secularização e coletivização da vida da exercitação, deslocando as asceses transmitidas desde a Antiguidade de seus respetivos contextos espirituais e dissolvendo-as no fluido espumoso das atuais comunidades biopolíticas dedicadas ao treinamento e ao empresariamento da subjetividade. Com base na sua ascetologia é possível perceber como a educação da infância está no centro de uma longa cadeia histórica de adestramentos através de uma arte movida por procedimentos imunológicos e antropotécnicas seletivas voltadas a produção de inúmeras despedidas da infância que visam arrancar o sujeito de suas comunidades insufladas, endurecendo-os e fabricando-os como “atletas do Estado” ou “empresas domésticas”. Nessa direção, esse ensaio pretende explorar desde o drama esferológico descrito por Sloterdijk, o que significa pensar a infância quando se tem de pagar o preço da ausência de camadas protetoras, isto é, quando explodem os círculos mágicos, as bolhas de sabão sopradas pelos olhos extasiados da criança.