CRÍTICA INTERMÍDIA A PARTIR DA LITERATURA EXPANDIDA DO FILME 'AKA ANA', DE ANTOINE D’AGATA: VIDEOPERFORMANCE, LIVRO-OBJETO E HIPERTEXTO
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Resumo
Este trabalho parte da noção de literatura expandida (GARRAMUÑO, 2014; PATO, 2012; SANTOS; REZENDE, 2011) para analisar o filme Aka Ana (França, 2008), do fotógrafo Antoine D’Agata. A obra em questão é considerada uma escritura expandida, que trespassa os sentidos do espectador pela palavra poético-reflexiva (áudio em japonês e legenda em francês). Tal verbalidade se encontra amalgamada nos elementos visuais e performativos, e transmutada por eles, resultando em uma interseção hibridizante que faz de Aka Ana uma obra intermídia (CLÜVER, 2006). Trata-se, também, de um filme-carta, gênero este híbrido em si. Em relação à narrativa fílmica, D’Agata se baseou no livro Madame Edwarda, de Georges Bataille (1978), para roteirizar seu filme – não como uma adaptação cinematográfica, mas como um roteiro de sensações a serem vividas em cena, pondo seu próprio corpo diante da câmera para realizar as filmagens. Assim, Aka Ana se constitui como um modo de ler a novela de Bataille, a partir da qual D’Agata criou sua própria escritura. A fim de abarcar a complexidade da obra estudada, este trabalho é uma leitura crítica do filme tecida de modo também ampliado – ou seja, ao tempo em que analisa uma escritura expandida, configura-se como uma crítica expandida (FREITAS; PEREIRA, 2015). Para tanto, o trabalho é apresentado sob a forma de uma crítica intermídia composta pela convergência audiovisual, plástica e verbal (HIGGINS, 2012), que inclui uma videoperformance, um livro-objeto e um hipertexto. Esses formatos derivados são, eles mesmos, híbridos por natureza: a performance manual diante da câmera de vídeo fez insurgir das artes do vídeo a videoperformance (DUBOIS, 2004; MACHADO, 2007; MELLO, 2008) cuja escultura gestual materializou um livro-objeto. Este, por sua vez, caracteriza-se por ter a materialidade do objeto livro tomada como linguagem pelas artes do livro (CARRIÓN, 2011; DERDYK, 2013; MARTINS FILHO, 2008; PAIVA, 2010; PLAZA, 1982; SILVEIRA, 2008), oferecendo ao leitor a abertura para novas coreografias de leitura diante de sua forma peculiar a ser lida, vista, tocada e manuseada (DERDYK, 2012; 2013). A passagem do texto manuscrito (com a mão) nas páginas do livro-objeto para o hipertexto digitado (com os dedos) nas páginas online distancia as mãos do leitor, mas oferece novas e ágeis possibilidades de combinação entre um elo e outro da rede hipertextual, ao alcance de um “toque” (o clique no mouse). Portanto, tem por característica a interpenetração entre materialidades, formatos, tipos de mídias e linguagens, sendo um trabalho intermidiático por natureza (BEIGUELMAN, 2007; MACHADO, 2008; MÜLLER, 2012). Sua narrativa partilha de conhecimentos e impressões sobre Aka Ana; ela não é ficcional – trata ensaisticamente da ficção do filme. Escrito através da bricolagem textual, o hipertexto deste trabalho estende e aprofunda o texto escrito no livro-objeto e lido na videoperformance. A página online inicial possui duas entradas principais de leitura, além de “móbiles” com citações que flutuam hipertextualmente através de botões e criam labirintos de navegação, aproximando sua forma do perfil do leitor imersivo próprio das redes digitais (MURRAY, 2003; SANTAELLA, 2004). Com esta proposição, visa-se a acompanhar o avanço das tecnologias de produção de texto, tomando por contexto o tema da expansão nos modos de ler, a partir das novas relações com a virtualidade da página-tela e a tangencialidade do papel. Nesse sentido, o desafio deste trabalho é ser teoria praticada, proporcionando ao leitor uma experiência intermidiática dentro da esfera científica, uma vez que o hipertexto possibilita interações que fazem de cada percurso uma leitura singular, ampliando as possibilidades de polissemia já próprias da linguagem.
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