LUTO, MELANCOLIA E CRIAÇÃO FICCIONAL EM O AVESSO DA PELE, DE JEFERSON TENÓRIO

Abstract

O avesso da pele (2020), o terceiro romance de Jeferson Tenório, ocupa um lugar que nos parece central no projeto literário do autor, uma vez que há, na obra, um amadurecimento tanto dos temas quanto das técnicas narrativas mobilizadas pelo escritor. A partir da construção de um narrador que oscila entre participante, testemunha e, em alguns casos, mobilizador de uma onisciência seletiva, Tenório constitui um texto que pode ser lido como um libelo contra o processo de marginalização dos corpos dissidentes e se utiliza da cidade de Porto Alegre como cenário dos conflitos vividos por suas personagens – principalmente Henrique, Marta e Pedro –que se veem como exilados num território hostil. O romance se constitui partir da narração de Pedro sobre seu pai, Henrique, assassinado pela polícia e pode ser visto como tentativa de constituição de uma imagem afetiva do pai pelo filho. Nesse processo de (re)invenção da figura do pai emerge a relação do texto com a ideia de melancolia (LIMA, 2017). A partir do olhar melancólico desse narrador que oscila sua focalização, temos um jogo de luto (BENJAMIN, 2011) em a elaboração da morte do pai passa também pela elaboração de si e do mundo (FREUD, 2011), o que faz com que a narrativa assuma um caráter de reflexão não só das questões étnico-raciais, mas também do processo de diálogo com as noções de morte, luto, melancolia e temporalidade, o que constitui uma série de efeitos de sentido que tem na incorporação e posterior recriação ficcional da realidade (CANDIDO, 2023) e, portanto, na ênfase estética o seu ponto de partida.