Dossiê “Bruxas e fadas na ficção de sempre”
Postado em 2025-09-25Bruxas e fadas na ficção de sempre
No mundo regido pelas leis naturais, bem como no contexto da ficção, as mulheres têm sido interpretadas e rotuladas como bruxas e fadas, dualidades antagônicas, e classificadas segundo as searas espaço-temporal e sociocultural, ou seja, se elas seguem os ditames compartilhados e impostos socialmente, são consideradas fadas, caso contrário, ao transgredirem as normas, são vistas como bruxas, feiticeiras, impuras e malignas. E foi assim que este pensamento perdurou durante séculos, posto que as mulheres eram invisibilizadas e foram apagadas da história.
O século XXI vem discutindo e ressignificando a noção de entendimento e/ou categorização de bruxas e fadas, pois em um contexto no qual a figura feminina está sob o holofote, tendo sua voz validada e ocupando cada vez mais espaço de protagonismo (ficcional e autoral), as mulheres estão relatando sua história e o surgimento das “bruxas”, denunciando as mazelas sociais que as impulsionaram a (re)agir e a contar sua história sob uma (nova) perspectiva, empunhando a caneta e apresentando um viés decolonial, transgressor, insubordinado. A título de exemplo, citamos a obra Las voladoras (2020), da equatoriana Mónica Ojeda, classificada como gótico andino, na qual o conto homônimo relata o surgimento das bruxas como insurgentes e autônomas, rebelando-se contra as imposições sociais. Por conseguinte, não são mais interpretadas como seres malignos e horríveis. São vistas como mulheres que se vingam em nome de um coletivo que foi apagado da história e sofreu os horrores da sociedade patriarcal, machista e misógina.
Neste sentido, este dossiê tem como escopo promover espaços para dialogar sobre bruxas e fadas na antiguidade e na contemporaneidade. Esperam-se contribuições que versem sobre, mas não se restrinjam a:
- Imaginários populares, marginalidade, (re)construção e relação entre mulher, fada e bruxa: mitologias, narrativas religiosas e espirituais, folclores;
- Leituras acerca de representações ou figurações da mulher na ficção de fadas e bruxas a partir de perspectivas como os feminismos e os estudos decoloniais, Queer e psicanalíticos;
- A relação entre medos, imaginários, resistências, persistências, crenças, fantasia e o horror social feminino na figuração de fadas e bruxas enquanto personagens ficcionais;
- Fadas e bruxas enquanto expressões do sobrenatural em narrativas literárias, cinematográficas e outras expressões artísticas;
- Leituras comparatistas de obras de ficção em diversas expressões artísticas e plataformas de mídia: obras literárias, de imagem de mídia em movimento, artes plásticas, quadrinhos;
- Fadas e bruxas na cultura pop: consumo de massa, estereotipificação, ressignificação dos arquétipos na ficção para crianças e jovens adultos.