Despossessão Territorial sob o capitalismo financeirizado:

formas jurídicas e espacialidades insurgentes

Autores

Palavras-chave:

Políticas urbanas, Capital financeiro, Espacialidades insurgentes

Resumo

https://doi.org/ 10.1590/2179-8966/2025/89576

A financeirização da terra e da moradia marca um verdadeiro 'império colonizador da paisagem urbana', em que territórios são cada vez mais capturados e populações, deslocadas e despossuídas. Sob este modelo de desenvolvimento urbano, a conexão entre o capital e o espaço construído atingiu uma escala e uma velocidade sem precedentes por meio da mobilização de novos instrumentos jurídicos, políticos e econômicos. Neste artigo, examinamos como o direito constitui e opera a conexão entre capital financeiro e espaço, permitindo um efetivo domínio financeiro sobre o espaço construído. O fundamento desta conexão entre o espaço e o capital financeiro é a ideia liberal da propriedade privada, que tem historicamente modulado a organização territorial das cidades e estabelecido fronteiras entre a cidade e as suas margens. Identificadas em todo o mundo como marginais e subnormais, as ‘margens’ ou periferias urbanas são lugares estigmatizados, criminalizados e racializados, permanentemente ameaçados e, simultaneamente, funcionais ao capital financeiro imobiliário. Desempenhando o papel de territórios preferenciais a serem utilizados como fronteiras de expansão do capital, as periferias urbanas são profundamente marcadas pela violência e pela destruição em nome da legalidade. São, portanto, áreas permanentemente empurradas ao deslocamento, à desterritorialização. Mas é importante reconhecer que a cidade está em constante disputa e, para além da captura financeira de territórios, há também um movimento contínuo de reterritorialização que desafia a cidade financeirizada. Diferentes experiências de resistência em cidades do mundo, com o uso de táticas insurgentes como ocupações, formas comunais de propriedade e outros vínculos coletivos e complexos com a terra, refreiam a submissão do espaço construído ao capital financeiro. Argumentamos que, nesta "guerra urbana", o espaço não é o cenário inerte em que acontecem disputas, mas sim seu próprio objeto. Nesse contexto, as espacialidades e formas jurídicas insurgentes emergem como processos coletivos fundamentais de construção de novas formas de vida urbana.

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Biografia do Autor

Raquel Rolnik, Universidade de São Paulo

Arquiteta e urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Produtividade em Pesquisa 1C). Foi relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia Adequada, por dois mandatos (2008-2011, 2011-2014). É autora dos livros “A Cidade e a Lei”, “O que é Cidade”, “Folha Explica: São Paulo” e Guerra dos Lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças.

Carolina Amadeo, Birkbeck College Universidade de Londres

Doutoranda em Direito pela Universidade de Londres (Birkbeck College) e advogada no projeto Canteiro Modelo de Conservação Salvador, em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Moniza Rizzini Ansari, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Advogada e pesquisadora de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAPERJ PDN10). Possui doutorado em Direito pela Universidade de Londres (Birkbeck College) e pós-doutorado em Geografia (King’s College London). É autora de “Global Poverty Law: the production of an urban problem (to be fixed)” (Routledge 2024).

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Publicado

2025-05-15

Como Citar

Rolnik, R., Amadeo, C., & Rizzini Ansari, M. (2025). Despossessão Territorial sob o capitalismo financeirizado: : formas jurídicas e espacialidades insurgentes. Revista Direito E Práxis, 16(2), 1–28. Recuperado de https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaceaju/article/view/89576