Heteronímia enquanto heterotopia: literatura e desvio em António Mor
Palavras-chave:
literatura portuguesa, Fernando Pessoa, Michel Foucault, loucura, Filosofia contemporânea.Resumo
Em diversos escritos de Fernando Pessoa, é comum percebermos referências a categorias científicas que aproximam elementos da modernidade à loucura. No entanto, é por meio de seu heterônimo António Mora que a relação entre literatura e loucura pode ser pensada propriamente, permitindo não só a ressonância do tema com toda sua obra, como também uma teoria da literatura que questiona os parâmetros tradicionais de identidade e individualidade. A escrita múltipla, a multiplicação de vozes e máscaras de Pessoa se apresentariam como saídas possíveis à falsa noção, introjetada pela tradição cristã metafísica, de que as singularidades do mundo podem ser englobadas em uma unidade que as legitime. Nos valendo da investigação de Michel Foucault sobre as heterotopias, procuramos estabelecer uma compreensão da heteronímia capaz de problematizar os lugares tradicionalmente delimitados para razão e desrazão. Ao buscar a restituição do Paganismo escrevendo em prosa filosófica desde um manicômio, António Mora revela sua condição heterotópica em relação a Pessoa, espelhando o desvio que este corporifica com a sua obra, tida como incompleta, inacabada, passível de ser lida, pelos olhos do homem dogmático moderno, como produto de uma mente desviante, louca e doente. Diagnosticado como desviante enquanto ele mesmo procura diagnosticar o próprio mundo ocidental pautado pelos valores que possibilitam seu próprio diagnóstico, Mora não apenas estabelece a relação do manicômio com o mundo, como também afirma uma saúde inerente à literatura, deixando claro que o intento do louco é antes apresentar, por meio de sua condição, o quadro clínico enviesado de nossa cultura.Downloads
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