O gozo e o jugo em Falo (1976), de Paulo Augusto
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2025.85492Palavras-chave:
Ditadura Militar, Autoritarismo, Homoerotismo, Paulo AugustoResumo
Publicado em 1976, o livro Falo, de Paulo Augusto, veio a lume no momento em que o Brasil se encontrava sob o jugo da Ditadura Militar (1964-1985) e trouxe em seus versos temáticas consideradas perniciosas aos olhos da moral dirigente do país. Neste artigo, realizamos uma leitura analítico-interpretativa de poemas da obra, com o objetivo de averiguar como a conjuntura social, política e cultural brasileira da década de 1970 percola a construção dos textos, sublinhando o atrito entre os mecanismos de opressão e controle vigentes no período e a elaboração de subjetividades poéticas lidas como dissidentes ao modelo normativo de sexualidade. A análise dos poemas selecionados parte do entendimento de que há enlaces entre texto literário e vida social (Adorno, 2003; Candido, 2006; 2019) formalizados por meio de procedimentos estéticos e composicionais decantados na elaboração da materialidade textual. Para efetuar a investigação, mobilizamos referenciais teóricos que nos permitem compreender a situação sociopolítica (Schwarcz, 2019; Quinalha, 2021a; 2021b) e cultural (Alves, 2019; Ferraz, 2013) dos anos de chumbo. Também contribuem para nossa reflexão os diálogos com outros leitores da obra do poeta, como Mattoso (2003), Santos (2022) e Gomes Varjão (2019), e as pesquisas de Moraes (2008; 2021) sobre literatura erótica. Com o estudo dos poemas de Paulo Augusto, percebe-se o desenvolvimento de uma voz poética que, a despeito dos regimes moralistas de continência, insiste em apregoar seus desejos, gozando de corpo e alma na linguagem, de modo flagrante.
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