Quando o rio Doce abraça a Ilha:

as enchentes e a formação histórica e territorial do bairro Ilha dos Araújos em Governador Valadares (MG)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2025.84471

Palavras-chave:

Formação Histórica, Urbanização, Enchentes, Memória, Rio Doce

Resumo

No decorrer do desenvolvimento histórico do bairro Ilha dos Araújos em Governador Valadares (MG) a presença de relatos de enchentes na memória de moradores locais são lembranças que permeiam suas vidas. O bairro é um dos mais atingidos pelas enchentes do Rio Doce, cenas que vêm se repetindo ao longo da sua configuração territorial. O resgate das memórias aborda a alegria de morar num bairro com uma rica paisagem e o sofrimento dos que vivenciaram enchentes. Este artigo investigou as memórias e narrativas relacionadas às enchentes do rio Doce na Ilha dos Araújos, em Governador Valadares (MG), por meio de uma abordagem interdisciplinar. O objetivo foi compreender como os fenômenos sociais de planejamento e construção do bairro e os eventos de cheias do rio Doce moldaram a formação histórico-territorial do bairro. Para esta análise foram utilizados uma metodologia quali-quantitativa tendo como fontes o jornal Diário do Rio Doce, a Revista da Ilha, entrevistas semiestruturadas com 42 respondentes, e entrevistas não estruturadas. As lembranças das enchentes, que remontam à década de 1940, deixaram marcas indeléveis na memória coletiva dos moradores, especialmente as de 1979 e 1985, que se destacaram pela magnitude e pelas consequências devastadoras. A relação entre as inundações e a ocupação territorial revela a vulnerabilidade do bairro e a necessidade de repensar as políticas de urbanização e gestão.

Biografia do Autor

Patricia Falco Genovez, Universidade Vale do Rio Doce

Professora Titular da Universidade Vale do Rio Doce, Faculdade de Ciências Educação e Letras. Doutora e Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense; graduada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Bruno Rangel Capilé de Souza, Universidade Vale do Rio Doce

Professor Titular da Universidade Vale do Rio Doce, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Doutor em História Social, Mestre em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, e graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Natália Lourdes dos Santos

Mestre em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce; graduada em Direito pela Faculdades Integradas de Caratinga.

Mayke Douglas Martins de Souza, Universidade Vale do Rio Doce

Mestrando em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce; graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Vale do Rio Doce.

Referências

A ilha dos Araújos é o ponto mais afetado, por condições geográficas. Diário do Rio Doce, Governador Valadares, ano 21, p. 5, 30 jan. 1979.

ACSELRAD, Henri (Org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

ANDRADE, Liza Maria Souza de. O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação para as cidades sustentáveis. Arquitextos, ano 4, 2003.

ARRUDA, Gilmar. A natureza dos rios: história, memória e territórios. Curitiba: UFPR, 2008.

BARTHES, Roland. Introduction to the Structural Analysis of Narrative. In: SONTAG, Susan (Org.). A Barthes Reader. London: Cape, 1982.

CAPILÉ, Bruno. Os idealizadores da socionatureza urbana e a transformação da paisagem fluvial carioca. In: COSTA, Alexander; SCHNEIDER, Luisa (Org.). Rios urbanos: diferentes abordagens sobre as águas nas cidades. Vol. 1. Curitiba: CRV, 2022.

CAPILÉ, Bruno; et al. (Org.). Às margens do Progresso: os rios e a modernização nas sociedades latinoamericanas. Maceió: Olyver, 2022.

CARDONA, Omar Dario. The need for rethinking the concepts of vulnerability and risk from a holistic perspective: A necessary review and criticism for effective risk management. In: BANKOFF, Greg; FRERKS, Georg; HILHORST, Daniel (Org.). Mapping Vulnerability: Disasters, Development and People. London: Earthscan, 2004.

CASTILHO, Alice Silva de. Definição da Planície de Inundação de Governador Valadares. (Relatório Técnico Final). Belo Horizonte: ANA/CPRM/IGAM, 2004. Disponível em: https://rigeo.sgb.gov.br/handle/doc/14817. Acesso em: 13 maio 2024.

CLAVAL, Paul. Epistemologia da Geografia. Florianópolis: UFSC, 2011.

CORAGGIO, J. L. Territorios en transición y la planificación regional en América Latina. Quito: Ciudad, 1987.

CPRM. Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais - Serviço Geológico do Brasil. Definição da Planície de Inundação de Governador Valadares. (Relatório Técnico Final). Belo Horizonte: ANA/CPRM/IGAM, 2004. Disponível em: https://rigeo.sgb.gov.br/-handle/doc/14817. Acesso em: 13 maio 2024.

DNOS. Departamento Nacional de Obras de Saneamento - CCS / DAEP. Prevenção e controle das enchentes do rio Doce – Relatório. Coordenação gráfica e impressão. Rio de Janeiro: DNOS 1982.

DRUMMOND, José Augusto. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 177-197, 1991.

Eles são uma espécie de xepeiros. Diário do Rio Doce, ano 21, 30 dez. 1979.

ESPINDOLA, Haruf Salmen. Associação comercial de Governador Valadares: sessenta anos de história. Governador Valadares, MG: ACGV, 1999.

ESPINDOLA, Haruf Salmen. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

ESPINDOLA, Haruf Salmen. Vale do Rio Doce: Fronteira, industrialização e colapso socioambiental. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, Anápolis (GO), v. 4, n. 1, p. 160-206, 2015.

ESPINDOLA, Haruf Salmen; GUIMARÃES, Diego Jeangregório Martins; MIFARREG, Iesmy Elisa Gomes. Desastre no Território da Mineração em Minas Gerais. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha, Anápolis (GO), v. 9, n. 1, p. 258-263, 2019.

FONSECA, José Raymundo. Figueira do Rio Doce. Rio de Janeiro: [s. n.], [s. d.].

GENOVEZ, Patrícia Falco; CAZAROTTO, José Luiz. A cidade como texto. Aproximações entre antropologia, urbanismo e semiótica do espaço. Cidades. Comunidades e Territórios, Lisboa, n. 43, p. 227-239, 2021.

GENOVEZ, Patrícia Falco; FERREIRA FILHO, José Bispo. Configurações de um cenário territorial: o eixo Rio Doce/bairro São Tarcísio/ribeirinhos (Governador Valadares/MG). Antíteses, Londrina (PR), v. 7, n. 14, p. 373-393, 2014.

GENOVEZ, Patrícia Falco; VILARINO, Maria Terezinha Bretas; SUPERBI, Roberto. Populações ribeirinhas e o processo de urbanização: o horizonte histórico das enchentes em Governador Valadares a partir do Jornal Diário do Rio Doce. [Anais do] Encontro Regional de História – ANPUH/MG, 18. Vol. 1. Ouro Preto, MG, 2012. Ouro Preto, MG: EdUFOP, 2012.

GONTIJO, Bernardo Machado; ASSIS, Wellington Lopes. Análise preliminar da sucessão de tipos de tempo no Norte de Minas Gerais e suas relações com os sistemas atmosféricos atuantes: períodos chuvosos de 1978/79 e 1984/85. Geonomos, Belo Horizonte, v. 5, n. 2, p. 59-64, 1997.

GOTTMANN, Jean. A evolução do conceito de território. Social Science Information, Thousand Oaks, v. 14, n. 3, p. 29-47, ago. 1975.

GUEDES, Gilvan Ramalho; GENOVEZ, Patrícia Falco; VILARINO, Maria Terezinha Bretas. Eventos extremos numa perspectiva interdisciplinar, multi-escalar e multi-método: uma abordagem territorial. In: GUEDES, Gilvan Ramalho; OJIMA, Ricardo. Território Mobilidade Populacional e Ambiente. Governador Valadares, MG: UNIVALE, 2012.

HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. Anais do [...]. Encontro de Geógrafos da América Latina, 10. São Paulo, 2005. São Paulo: USP, 2005, p. 674-677.

HAESBAERT, Rogério. Identidades territoriais. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Org.). Geografia cultural: manifestações da cultura no espaço. Rio de Janeiro: Ed. UERG, 1999.

HARDY, Barbara. Towards a Poetic of Fiction: 3. An Approach Through Narrative. Novel, Durham, v. 2. n. 1, p. 5-14, 1968.

HARRES, Marluza M.; RÜCKERT, Fabiano Quadros. A natureza, o tempo e as marcas da ação humana: políticas públicas e ambiente em perspectiva histórica. São Leopoldo, RS: Oikos, 2015.

HOWARD, Ebenezer. Cidades-Jardins de amanhã. São Paulo: Hucitec, 1996.

KERMISCH, Céline. Les paradigmes de la perception du risque. Paris: Lavoisier, 2010.

KIBEL, Paul Stanton. Bankside urban: an introduction. In: KIBEL, Paul Stanton (Org.). Rivertown: rethinking urban rivers. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology Press, 2007.

LADURIE, Emmanuel Le Roy. Présentation. Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, Paris, v. 29, n. 3, p. 537, 1974.

LAGANIER, Richard (Org.). Territoires, inondation et figures du risque. La prevention au prisme de l’évaluation. Paris: L’Harmattan, 2006.

LÜBKEN, Uwe. Rivers and risk in the city: the urban floodplain as a contested space. In: CASTONGUAY, Stéphane; EVENDEN, Matthew. Urban rivers: remaking rivers, cities, and space in Europe and North America. [S. l.]: [s. n.], 2012.

MACHADO, Mônica Sampaio. Geografia e Epistemologia: Um Passeio pelos Conceitos de Espaço, Território e Territorialidade. GeoUERJ, Rio de Janeiro, n. 1, 1997. Disponível em: http://www2.uerj.br/~dgeo/geouerj1h/monica.htm. Acesso em: 25 out. 2005.

NODARI, E. S.; ESPINDOLA, M. A.; LOPES, A. R. S. (Org.). Desastres Socioambientais em Santa Catarina. São Leopoldo, RS: Oikos, 2015.

PMGV. Prefeitura Municipal de Governador Valadares. Aspectos gerais: conheça mais sobre a cidade de Governador Valadares. 2015. Disponível em: https://www.valadares.mg.-gov.br/detalhe-da-materia/info/aspectos-gerais/12083. Acesso em: 13 maio 2024.

PMGV. Secretaria Municipal de Governo. Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC). 2012. [S. n. t.].

PORTELLI, Alessandro. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

RAPPORT, N. Problem-Solving and Contradiction. Playing Darts and Becoming Human. Self, Agency and Society, Thousand Oaks, v. 2, n. 1, p. 81-101, 1998.

RAPPORT, N.; OVERGING, J. Social and Cultural Anthropology: Key Concepts. London: Routledge, 2000.

RATZEL, Friedrich. La géographie politique. Paris: Fayard, 1987.

RICOEUR, P. Tempo e Narrativa. Tomo I. Campinas, SP: Papirus, 1994.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2007.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa: a intriga e a narrativa histórica. Tomo I. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

RIO Doce Alerta. Cheias Históricas. Aplicativo de androide da Prefeitura Municipal de Governador Valadares (MG). Versão 1.4.0. Atualizado em: 13 mar. 2024.

RÍOS, Francisco T. Antropología del territorio. Polis: Revista de la Universidad Bolivariana, Santiago, v. 11, n. 32, p. 493-510, ago. 2012.

ROCHA, Lissandra Lopes Coelho; et al. O desvendar de Themis nos desastres socioambientais: as invisibilidades jurídicas e o direito dos desastres. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 1-21, 2021.

ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.) Religião, identidade e território. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.

SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.

SANTOS, Milton. Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil. Território e sociedade no início do século XXI. São Paulo; Rio de Janeiro: Record, 2005.

SANTOS, Parajara dos. Revista da Ilha. Governador Valadares, MG: Publicação da ILS Comunicação, 2000.

SAQUET, Marcos Aurélio. A renovação da Geografia: a construção de uma teoria de território e de territorialidade na obra de Jean Gottmann. Revista da ANPEGE, Dourados (MT), v. 5, n. 75, p. 135-145, 1988.

SAUER, Carl. Geografia Cultural. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

SEDREZ, Lise F.; MAIA, Andrea Casa Nova. Enchentes que destroem, enchentes que constroem: natureza e memória da Cidade de Deus. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, v. 8, p. 183-200, 2014.

SEDREZ, Lise Fernanda; MIRAGLIA, Marina. A cidade perdida para as águas: o caso da Vila Epecuén na província de Buenos Aires, Argentina. Esboços, Florianópolis, v. 20, p. 35-51, 2013.

SIMAN, Lana Mara de Castro. Memórias sobre a história de uma cidade: a História como labirinto. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 47, n. 24, p. 241-270, 1988.

SWYNGEDOUW, Erik. A cidade como um híbrido: natureza, sociedade e “urbanização-ciborgue”. In: ACSELRAD, Henri (Org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

WACKERMANN, Gabriel. La géographie des risques dans le monde. Paris: Ellipses, 2005.

WHITE, Gilbert. Natural hazards: local, national, global. New York: Oxford University Press, 1974.

WHITE, Richard. The organic machine: The remaking of the Columbia River. New York: Macmillan, 1996.

WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p.198-215, 1991.

Downloads

Publicado

2025-05-06

Como Citar

Falco Genovez, P., Rangel Capilé de Souza, B., Lourdes dos Santos, N., & Martins de Souza, M. D. (2025). Quando o rio Doce abraça a Ilha:: as enchentes e a formação histórica e territorial do bairro Ilha dos Araújos em Governador Valadares (MG). Revista Maracanan, (39), 1–23. https://doi.org/10.12957/revmar.2025.84471

Edição

Seção

Artigos