Tricontinentalismo para crianças:

N'vula (1981) e a construção ficcional do “homem novo” em Cuba e Angola

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2025.82740

Palavras-chave:

Tricontinentalismo, Homem Novo, Cinema de Animação, Cuba, Angola

Resumo

O artigo apresenta uma análise da animação cubana N’vula (1981), da autoria do diretor Juan Padrón. Este autor, mais conhecido pelo longa-metragem Vampiros em La Habana (1985) ou pela série animada Elpidio Valdés, lançou N’vula, um curta de 9 minutos, dentro do contexto da Operação Carlota, uma ação de caráter militar do governo cubano que visava apoiar o recém instalado regime de governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). A execução desta operação pode ser compreendida a partir dos ditames do tricontinentalismo, aqui considerado uma doutrina da política exterior cubana, pautada principalmente no terceiro-mundismo e no internacionalismo socialista. Tendo por Ernesto Che Guevara um de seus idealizadores, o tricontinentalismo pode ser intimamente relacionado com a ideia de “homem novo”, promovida por diversos Estados marxistas-leninistas, e também teorizada pelo revolucionário latino-americano. Este contexto revela-se como fundamental para a discussão dos significados narrativos de N’vula, um filme que, ao visar o público infantil, revela-se um instrumento de propagação do tricontinentalismo para crianças em um momento no qual o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC) promovia uma série de obras retratando a realidade angolana e a ação de cubanos naquele país. Os protagonistas de N’vula são crianças “pioneiras”, educadas dentro dos parâmetros marxistas do MPLA em zonas libertadas, que enfrentam cruéis soldados portugueses patrocinados pelo imperialismo, cujo objetivo era destruir sua escola e vilarejo. Neste sentido, o filme traz uma projeção de como deveria ser o homem novo socialista, já criado dentro de uma lógica educacional que se pretendia “revolucionária” e livre dos pressupostos da burguesia. Por esta razão podemos considerar que a obra corporifica os preceitos do tricontinentalismo, servindo como uma espécie de projeção idealizada de como deveria ser o futuro das nações marxistas.

Biografia do Autor

Ivan Araújo Lima, Univerisdade Federal do Paraná

Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná. Mestre e graduado em História pela Universidade Federal do Paraná.

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Publicado

2025-05-06

Como Citar

Araújo Lima, I. (2025). Tricontinentalismo para crianças:: N’vula (1981) e a construção ficcional do “homem novo” em Cuba e Angola. Revista Maracanan, (39), 1–20. https://doi.org/10.12957/revmar.2025.82740

Edição

Seção

Artigos