Diversão, saúde infantil e modernidade:
o lúdico torna-se técnico nas páginas do Boletim da Legião Brasileira de Assistência
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2025.82612Palavras-chave:
Puericultura, Legião Brasileira de Assistência, Lúdico, InfânciasResumo
O presente artigo objetiva analisar a atuação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), uma das maiores instituições de assistência do Brasil, pautada, sobretudo, pelo auxílio materno-infantil, na popularização de noções de puericultura e na propagação de um ideário de “maternidade moderna”. Para tal, tomou-se como fonte histórica de análise a sua publicação oficial, Boletim da L.B.A., periódico com conteúdo voltado à racionalização e modernização dos cuidados maternos e da infância, seguindo a esteira de transformações nas concepções sobre infância do período. Foram analisadas setenta e oito edições do Boletim da LBA entre 1945 e 1964. Buscando pensar uma maior ingerência da medicina e da ciência, a partir do século XIX, sobre os comportamentos e os espaços como um todo, objetivou-se investigar como a diversão infantil também passou ser alvo do olhar técnico e racional, bastante engajado no processo de disciplinarização dos corpos. Assim, pode-se concluir que o brincar passou a ligar-se, intimamente, com a educação no sentido ampliado, especialmente a educação do corpo e dos hábitos higiênico-modernos. O texto também enfatiza que todo esse arcabouço de disciplinarização e racionalização do lúdico encontra-se nas páginas do Boletim da LBA, numa tentativa de propagar a puericultura e mitigar a mortalidade infantil no Brasil, bem como bastante atrelado à consolidação de um modelo de vida e sociedade capitalista-burguesas no Brasil.
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