História, literatura e (pós)colonialismo
política e gênero em Condições Nervosas de Tsitsi Dangarembga (Zimbábue, décadas de 1960-1980)
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2024.80022Palavras-chave:
Literaturas Africanas, Zimbábue, Tsitsi Dangarembga, Condições NervosasResumo
O objetivo principal do artigo consiste em uma análise de Condições Nervosas (Nervous Conditions), romance de estreia da autora zimbabuana Tsitsi Dangarembga, o qual foi publicado originalmente em 1988 e narra a trajetória e a formação intelectual/subjetiva de Tambudzai (ou Tambu), uma jovem shona no interior rural da Rodésia (atual Zimbábue), na década de 1960, com ênfase nas oportunidades educacionais que almeja após a morte de seu irmão mais velho, e os conflitos ocasionados a partir do contato entre valores tradicionais africanos e elementos de modernidade, sobretudo no que diz respeito às relações familiares e de gênero. Ao longo da narrativa, Dangarembga contrasta as várias mulheres que integram as vivências de Tambudzai, a exemplo de sua prima, Nyasha, e a tia Maiguru, que representam mulheres que conseguiram oportunidades de estudo e ascensão social, ainda que vivenciando conflitos ocasionados pelo contato com as culturas colonialistas. A análise do romance, a partir das interlocuções teórico-metodológicas acerca das relações entre História e Literatura, e com amparo nos estudos africanos, concentra-se na obra de Dangarembga para investigar os processos de formação de subjetividades femininas na sociedade colonial no Zimbábue, com atenção à construção de espaços de protagonismo e agenciamento de mulheres shona em diferentes espaços sociais, e contrapondo essas questões a um contexto demarcado pelos debates políticos e conflitos ocasionados em torno da descolonização e consolidação da nação zimbabuana.
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