Família, morte e cultura material na era das rebeliões
nota de pesquisa sobre testamentos indígenas em Charcas (1750-1800)
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2024.79843Palavras-chave:
Testamentos, Indígenas, CharcasResumo
A complexa e gigantesca máquina burocrática da administração espanhola de suas colônias deixou de legado um dos mais importantes espólios documentais do ponto de vista de como a sociedade hispano-americana se pensava, que bens seus diversos segmentos sociais possuíam, como lidavam com questões legais e de legitimidade, e como estavam constituídas as famílias. Trata-se dos testamentos e inventários de bens. São documentos legais, de natureza tanto espiritual quanto jurídica, escritos por um escrivão em papel timbrado do estado, conformados por diversas cláusulas que versam, dentre outras coisas, sobre a salvação da alma, o reconhecimento de filhos ilegítimos e a distribuição de bens na forma de herança. De acordo com as cláusulas dos testamentos, se podem perceber e analisar uma série de aspectos da vida cotidiana da sociedade colonial: se reconhece a proveniência geográfica e étnica do testador, sua idade, seu endereço e conformação familiar, seu estado de saúde, sua religiosidade, práticas funerárias e de enterro, seu estado civil e descendência, os bens materiais que possuía, suas relações familiares e sociais, sua relação com a Igreja etc. Evidentemente, nem todos esses elementos estão presentes o tempo todo em todos os testamentos. O objetivo desta pesquisa é analisar as diferentes configurações familiares depreendidas a partir dos testamentos, determinando a relação do testador com a morte iminente, bem como suas condições de vida enquanto indígenas, pela análise dos bens que deixa a seus herdeiros. A documentação selecionada para esta pesquisa é constituída por 30 testamentos de indígenas; 12 testamentos e inventários de criollos e padres espanhóis, da Audiência de Charcas, entre as décadas de 1750 e 1790; e 10 testamentos variados dos séculos XVI e XVII. O material foi identificado, recolhido e adquirido no Archivo y Biblioteca Nacionales de Bolivia e no Archivo Histórico de Potosí-Casa de la Moneda, entre 2019 e 2021.
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