Quem trabalha, come

cozinhas ao ar livre no espaço urbano de Luanda (1960-1970)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2024.78802

Palavras-chave:

Luanda, Comensalidade, Territorialidade, Agência feminina, Trabalhadores

Resumo

Com a internacionalização da economia a partir dos anos 1950, década em que se conformava um padrão alimentar global, os africanos passaram a ser integrados no mercado de trabalho assalariado urbano. Por conseguinte, eram vistos como agentes econômicos sujeitos a novos hábitos de consumo e inseridos nas estratégias de enquadramento social, estas, ajustáveis a uma classificação colonial que se espelhava espacialmente, demarcando as linhas de uma territorialidade.  Ao defendermos o consumo alimentar como expressão dinâmica de um vivido territorial, o presente artigo tem como objetivo destacar a estratégia de resistência aos cerceamentos coloniais a partir da ocorrência de cozinhas ao ar livre montadas pela população africana no espaço urbano da cidade de Luanda durante os anos 1960 e 1970. Para tal, alicerçados em um referencial teórico-metodológico que se inscreve na geografia, antropologia e história social, cotejamos informações apresentadas em diferentes tipologias de fontes, incluindo- se periódicos, documentos médico-nutricionais e investigações socioantropológicas elaborados pelas autoridades coloniais. Ao apostarmos na metodologia da História Oral nos baseamos, também, em entrevistas realizadas com angolanos que experimentaram a vivência na Luanda daquele tempo.

Biografia do Autor

Karina Helena Ramos, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

Pesquisadora Colaboradora do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. Doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Publicado

2024-05-17 — Atualizado em 2024-05-20

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Como Citar

Helena Ramos, K. (2024). Quem trabalha, come: cozinhas ao ar livre no espaço urbano de Luanda (1960-1970). Revista Maracanan, 1(35), 101–126. https://doi.org/10.12957/revmar.2024.78802 (Original work published 17º de maio de 2024)

Edição

Seção

Artigos