Apontamentos para a alimentação nos conventos franciscanos da América portuguesa meridional
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2024.77902Palavras-chave:
Alimentação, Abastecimento, Franciscanos, Benfeitores, Província da Imaculada ConceiçãoResumo
Embora existam estudos sobre a alimentação na vida conventual nos domínios do Império português, no que concerne à rede de conventos franciscanos no Brasil meridional, chamada província da Imaculada Conceição, entre o século XVII e XVIII, há pouca discussão a respeito. Trabalhos clássicos sobre a instituição limitaram-se a analisar o tema pela perspectiva do governo dos prelados, como mais uma informação na história administrativa do que uma área de estudo com objetos próprios. Em partes, a lacuna deve-se, também, à característica fragmentária do corpus documental e a falta de material sobre a entrada de víveres e o consumo cotidiano nos recolhimentos. Tendo em vista a impossibilidade de abordar o problema com dados objetivos, como o que, onde e quanto foi ingerido no período, o presente artigo explora documentação coeva e variada, nomeadamente cartas, memórias, moralistas, vidas, estatutos, escrituras, para tentar entender o contexto em que se deu o ato de comer. Abordar as normas e a moralidade à mesa, os meios e os impasses para aquisição dos mantimentos, é capaz de responder, ainda que parcialmente, às dúvidas sobre a conduta capucha diante da nutrição. Assim, esta pesquisa busca descrever as circunstâncias que pautaram a questão nas capitanias do sul do Brasil, de 1650 a 1800, sobretudo a articulação com os seculares que concorreram diretamente no processo de provimento dos institutos. Conclui-se, portanto, que esta história fala mais sobre a forte conotação moral da comida do que simplesmente da subsistência dos religiosos.
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