Mercadorias orientais na cidade da Bahia: as fazendas de Antonio Manoel de Melo e Castro (1795)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2023.74292

Palavras-chave:

Mercadorias asiáticas, redes comerciais, Império português, Século XVIII

Resumo

O presente artigo realiza um levantamento das mercadorias orientais existentes no inventário post-mortem de Antônio Manoel de Melo e Castro. Nascido em Goa, na Índia, esse indivíduo era filho do capitão general português Francisco de Melo e Castro e de Maria Antonia Álvares Pereira de Lacerda, que também era natural de Goa. Antônio Manoel de Melo e Castro foi Governador da Capitania de Rios de Sena entre 1780 e 1786, e depois Governador-geral de Moçambique, durante os anos de 1786 a 1793. Malgrado seus laços nas terras do Índico, foi dono de um comércio de fazendas secas com confecções têxteis, louças, joias e outros itens de luxo de origens asiáticas na Bahia, onde faleceu em 1795. O artigo discute alguns elementos da trajetória de Melo e Castro, o contexto de recrudescimento do comércio oriental na Carreira da Índia no final do século XVIII, e analisa as fazendas de seu inventário na dinâmica local, onde o consumo dessas mercadorias foi uma forma de distinção para os grupos mais abastados da cidade da Bahia no período colonial.

Biografia do Autor

Victória Carneiro Sousa, Universidade Federal da Bahia

Mestranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-graduação em História. Graduada em História na Universidade Estadual de Feira de Santana. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Augusto Fagundes da Silva dos Santos, Universidade Estadual de Feira de Santana

Professor Substituto na Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia. Doutor e Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia; graduado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 

Referências

APEB. Arquivo Público do Estado da Bahia. Seção Arquivos Judiciários. Série Inventários. Autos 04/1588/2057/09. Antonio Manoel de Melo e Castro, 1795.

AHU. Arquivo Histórico Ultramarino. Avulsos Moçambique cx. 33, doc. 53. Bando do governador dos Rios de Sena, Antonio Manuel de Melo e Castro, sobre o comércio, de 22 de março de 1780.

AHU. Avulsos Moçambique. Carta do governador dos Rios de Sena, Antonio Manuel de Melo e Castro, para o secretário de Estado dos Negócios da Marinha e dos Domínios Ultramarinos, Martinho de Melo e Castro, de 15 de maio de 1781.

Bibliografia

ACIOLI, Gustavo Lopes; MENZ, Maximiliano M. Vestindo o escravismo: o comércio de têxteis e o Contrato de Angola (século XVIII). Revista Brasileira de História, v. 39, p. 109-134, 2019.

ALBUQUERQUE, Tomás Pinto de. O financiamento do comércio da Ásia no último quartel de setecentos. Configurações. Revista Ciências Sociais, n. 26, p. 19-41, 2020.

ANTUNES, Luís Frederico Dias. A vida social das Colchas e outros bens indo-portugueses: seus usos e valor para lá do comércio (séculos XVI-XVIII). Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 26, p. 1-41, 2018.

ANTUNES, Luís Frederico Dias. A ilha de Moçambique, na segunda metade do século XVIII. Anais de História de Além-mar, vol. VIII, p. 197-212, 2006.

ANTUNES, Luís Frederico Dias. O bazar e a fortaleza em Moçambique. A comunidade baneane do Guzerate e a transformação do comércio afro-asiático (1686-1810). 2001. Tese (Doutorado em História) – Universidade Nova de Lisboa, 2001.

ANTUNES, Luís Frederico Dias. O comércio com o Brasil e a comunidade mercantil em Moçambique (séc. XVIII). Dimensões, n. 19, p. 207-220, 2007.

ANTUNES, Luís Frederico Dias. Como continuar a ser português em terras de África: quotidiano e conforto em Moçambique setecentista. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, M. F. (Orgs.). Na trama das redes: política e negócio no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EdUFF, 2008.

BICALHO, Maria F.; FERLINI, Vera Lúcia A. Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português, séculos XVI a XIX. São Paulo: Alameda, 2005.

BOHORQUEZ, Jesús. Linking the Atlantic and Indian Oceans: Asian textiles, Spanish silver, global capital, and the financing of the Portuguese–Brazilian slave trade (c. 1760–1808). Journal of Global History, v. 15, n. 1, p. 19-38, 2020.

BOXER, Charles Ralph. O império marítimo português: 1415-1825. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2002.

CANDIDO, Mariana. Merchants and the Business of the Slave Trade at Benguela, 1750-1850. African Economic History, n. 35, p. 1-30, 2007.

CARREIRA, Ernestina. O comércio português no Gujarat na segunda metade do século XVIII: as famílias Loureiro e Ribeiro. Mare liberum, v. 9, p. 83-94, 1995.

CUNHA, Mafalda Soares da; MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Vice-reis, governadores e conselheiros de governo do Estado da Índia (1505-1834): recrutamento e caracterização social. Penélope: revista de história e ciências sociais, n. 15, p. 91-120, 1995.

ELLIS, Myriam. A Baleia no Brasil Colonial. São Paulo: Edições Melhoramentos/EdUSP, 1969.

DUPLESSIS, Robert S. The Material Atlantic: Clothing, Commerce, and Colonization in the Atlantic World, 1650 - 1800. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

FERREIRA, Roquinaldo. A arte de furtar: redes de comércio ilegal no mercado imperial ultramarino português (c. 1690-c. 1750). In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, M. F. (Orgs.). Na Trama das Redes: política e negócio no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

FERREIRA, Roquinaldo. Dinâmica do comércio intracolonial: geribitas, panos asiáticos e guerra no tráfico angolano de escravos (século XVIII). In: O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

FERREIRA, Roquinaldo. Transforming Atlantic Slaving Trade, Warfare and Territorial Control in Angola, 1650-1800. 2003. Tese (Doutorado em História) – Universidade da California, Los Angeles, 2003.

FRAGOSO, João Luís Ribeiro; DE SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá (Ed.). Monarquia Pluricontinental e a governança da terra no ultramar atlântico luso: séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012.

FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. Monarquia pluricontinental e repúblicas: algumas reflexões sobre a América lusa nos séculos XVI-XVIII. Tempo, v. 14, p. 36-50, 2009.

FRAGOSO, João Luis Ribeiro. Nas rotas do Império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo português. Vitória: EDUFES, 2006.

FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

FREYRE, Gilberto. Do Oriente ao Ocidente. In: Sobrados e mucambos. São Paulo: Global Editora, 2015.

HOPPE, Fritz. A África Oriental Portuguesa no tempo do Marquês de Pombal (1750-1777). Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1970.

KOBAYASHI, K. Tecendo redes imperiais: uma dimensão asiática do comércio britânico de escravos no Atlântico no século XVIII. Afro-Ásia, Universidade Federal da Bahia, n. 63, 2021. https://doi.org/10.9771/aa.v0i63.38307.

LAPA, José Roberto do Amaral. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968.

LARA, Silvia Hunold. Fragmentos setecentistas: Escravidão, cultura e poder na América

portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LAW, Robin. The Slave Coast of West Africa, 1550-1750: The Impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society. Oxford: Oxford University Press, 1991.

MACHADO, Pedro. Ocean of trade: South Asian merchants, Africa and the Indian Ocean, c. 1750–1850. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.

MALACCO. Felipe Silveira de Oliveira. Novas aproximações sobre o comércio, produção e o uso de marfim Guiné do Cabo Verde (1448-1699). In: SANTOS, Vanicléia Silva; PAIVA, Eduardo França; GOMES. René Lommez (Orgs.). O comércio de marfim no mundo atlântico: circulação e produção (séculos XV a XIX). Belo Horizonte: Clio Gestão Cultural e Editora, 2022.

MATTOSO, Katia. Bahia: a cidade do Salvador e seu mercado no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1978.

MASCARENHAS, Maria José Rapassi. Fortunas coloniais: elite e riqueza em Salvador (1760-1808). 1999. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 1999.

MILLER, Joseph C. Imports at Luanda, Angola 1785-1823 In: GERHARD, Liesegang; PASCH, Helma; JONES, Adam (Orgs.). Figuring African Trade: Proceedings of the Symposium on the Quantification and Structure of the Import and Export and Long Distance Trade in Africa 1800-1913. Berlin: D. Reimer, 1986.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Governadores e capitães-mores do Império Atlântico português no século XVIII. In: BICALHO, Maria F.; FERLINI, Vera Lúcia A. Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português, séculos XVI a XIX. São Paulo: Alameda, 2005.

PEDREIRA, Jorge. Os Homens de Negócio da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo (1755-1822). Diferenciação, reprodução e identificação de um grupo social. 1995. Tese (Doutorado em História) – Universidade Nova de Lisboa, 1995.

RIBEIRO, Ana Sofia. Letras de câmbio e correspondência comercial como materiais da História: o acto de cooperar sob olhares distintos. CEM – Cultura, Espaço, Memória, n. 2, p. 159-169, 2011.

RITA-FERREIRA, António. Fixação portuguesa e história pré-colonial de Moçambique. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical. Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1982.

ROCHA, Aurélio. Contribuição para o estudo das relações entre Moçambique e o Brasil - século XIX. Tráfico de escravos, relações políticas e culturais. Revista Studia, n. 51, p. 61-118, 1992.

RODRIGUES, Eugénia. Os portugueses e o Bive: um caso de formação de prazos nos Rios de Sena no século XVIII. Actas do Seminário de Moçambique: Navegações, comércio e técnicas, Maputo, p. 235-259, 1996.

RUSSEL-WOOD, Anthony John R. A dinâmica da presença brasileira no Índico e no Oriente. Séculos XVI-XIX. Topoi (Rio de Janeiro), v. 2, p. 9-40, 2001.

SANTOS, Augusto Fagundes da Silva dos. É fiado ou em dinheiro de contado? o crédito na Bahia colonial (1777-1808). 2020. Tese (doutorado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.

FAGUNDES, Augusto. A presença dos objetos de marfim na Salvador colonial. In: Vanicléia Silva-Santos (Org.). Marfins africanos como insignias de Poder: contextos de produção e usos dentro e fora da África. 1ed. Belo Horizonte: Fino Traço, 2023, v. 1.

SONNERAT, Pierre. Viagem às Índias Orientais e à China (1782). Apud FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Outras visões do Rio de Janeiro colonial: antologia de textos (1582-1808). Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: Notes towards a Reconfiguration of Early Modern Eurasia. Modern Asian Studies, v. 31, n. 3, p. 735-762, 1997.

THOMAZ, Luís Felipe. De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1994.

VAZ, Ronaldo Ferreira. O exclusivo monetário-cambial nas províncias auríferas no oitocentos. Anais do XXIX Simpósio Nacional de História, Brasília (DF), 2017.

WAGNER, Ana Paula. População no Império Português: recenseamentos na África Oriental Portuguesa na segunda metade do século XVIII. 2009. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

YULE, Henry; BURNELL, Arthur Coke. Hobson-Jobson: The Anglo-Indian Dictionary. Hertfordshire: Wordsworth Editions, 1996.

Downloads

Publicado

2023-09-06

Como Citar

Carneiro Sousa, V., & Fagundes da Silva dos Santos, A. (2023). Mercadorias orientais na cidade da Bahia: as fazendas de Antonio Manoel de Melo e Castro (1795). Revista Maracanan, (33), 169–188. https://doi.org/10.12957/revmar.2023.74292