“Acima da América está o sangue”: a eugenia nos escritos de Monteiro Lobato
DOI:
https://doi.org/10.12957/revmar.2021.54221Palavras-chave:
ciência, identidade, eugenia, Monteiro Lobato,Resumo
Este artigo procura discutir algumas das passagens dispostas nos escritos de Monteiro Lobato que dialogam com posturas eugenistas. Para tanto, observamos mais de perto dois de seus textos: “O presidente negro” (1926) e “América” (1932). Veem-se reflexos dessas posições em cartas trocadas com Renato Kehl e Artur Neiva. As análises indicam a presença de concepções eugenistas ora associadas a uma perspectiva mais radical, ora mais próximas das práticas sanitaristas, à época em voga no Brasil. Em sua busca por levar o país ao progresso, o autor articulou perspectivas cientificistas comuns em seu tempo. É nesse sentido que procuramos fazer uma reflexão crítica sobre a circulação de ideias eugenistas e a construção do projeto de identidade nacional lobatiano.
Referências
A NOITE. A campanha infamante do “Brazilian American Colonisation Syndicate”. A Noite, capa, p.1. 27 jul. 1921.
ANTONIOS, Nathalie; RAUP, Christina. Buck v. Bell (1927). Disponível em: <https://embryo.asu.edu/pages/buck-v-bell-1927>. Acesso em: 4 abr. 2019. 2012.
BLACK, Edwin. A guerra contra os fracos: a eugenia e a campanha dos Estados Unidos para criar uma raça dominante. São Paulo: A Girafa. 2003.
BUCKLE, Henry Thomas. History of civilization in england. Nova York: D. Appleton and Company. 1884. v. 1.
CAMPOS, André Luiz Vieira de. A República do Picapau Amarelo: uma leitura de Monteiro Lobato. São Paulo: Martins Fontes. 1986.
CARVALHO, Leonardo Dallacqua. O resgate dos antigos para a propaganda da eugenia de Renato Kehl em Lições de Eugenia (1929). Geografia e Pesquisa, v.7, n.2. Disponível em: <http://vampira.ourinhos.unesp.br/openjournalsystem/index.php/geografiaepesquisa/article/view/167>. Acesso em: 22 dez. 2019. 19 set. 2014.
CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. 3. ed. São Paulo: Brasiliense. 1962. 2 v.
DE SOUZA, Leonardo Cruz et al. A poética de Augusto dos Anjos e a neuropsiquiatria no fin de siècle. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.25, n.1, p.163-179. 2018.
DIWAN, Pietra. Raça Pura. São Paulo: Contexto. 2007.
ENDALÉCIO, Raquel Nunes. A (re)construção do mundo clássico na obra de Monteiro Lobato: fontes e procedimentos. Dissertação (Mestrado em Estudos Brasileiros) - Universidade de São Paulo, São Paulo. 2013. Disponível em: <https://bv.fapesp.br/pt/dissertacoes-teses/82668/a-re-construcao-do-mundo-classico-na-obra-de-monteiro-lobato>. Acesso em: 13 dez. 2019.
ESTADOS UNIDOS. Suprema Corte dos Estados Unidos. Buck v. Bell, 274 U.S. 200. 1927. Disponível em: <https://www.loc.gov/item/usrep274200/>. Acesso em: 5 mar. 2018.
GALTON, Francis. Inquiries into human faculty and its development. Nova York: MacMillan and Co. 1883.
GALTON, Francis. Hereditary Genius: an inquiry into its laws and consequences. 2. ed. Londres: Macmillan and Co. 1892.
HOCHMAN, Gilberto; LIMA, Nísia Trindade. “Pouca saúde e muita saúva”: sanitarismo, interpretações do país e ciências sociais. In: Armus, Diego; Hochman, Gilberto (Orgs.). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: FIOCRUZ. p.493-534. 2004.
HORNE, Gerald. O Sul mais distante: os Estados Unidos, o Brasil e o tráfico de escravos africanos. São Paulo: Companhia das Letras. 2010.
KEHL, Renato. A eugenia no Brasil. In: Couto, M. (Org.). Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: Actas e Trabalhos. Rio de Janeiro. p.45-62. 1929c.
KEHL, Renato. O nosso boletim. Boletim de Eugenia, v.1, n.1. 1929a.
KEHL, Renato. Questões de Raça. Boletim de Eugenia, n.6-7. 1929b.
KEHL, Renato. Os erros da filantropia: filantropia contra-seletiva. Boletim de Eugenia, n.32, p.1. 1931.
KEVLES, Daniel J. In the name of eugenics: genetics and the uses of human heredity. Cambridge: Harvard University Press. 1995.
LIGA BRASILEIRA DE HYGIENE MENTAL. Estatutos da Liga Brasileira de Hygiene Mental. Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, v.1, n.1, p.223-234. 1925.
LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. Condenado pela raça, absolvido pela medicina: o Brasil descoberto pelo movimento sanitarista da Primeira República. In: Maio, Marcos Chor; Santos, Ricardo Ventura (Orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ. p.23-40. 1996.
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Renato Kehl. Fundo Pessoal Renato Kehl – DAD-COC. 6 abr. 1918.
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Artur Neiva. Arquivo Artur Neiva – CPDOC-FGV. [1926].
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Renato Kehl. Fundo Pessoal Renato Kehl – DAD-COC. [1926 ou 1927].
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Artur Neiva. Arquivo Artur Neiva – CPDOC-FGV. 10 abr. 1928.
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Renato Kehl. Fundo Pessoal Renato Kehl – DAD-COC. 8 jul. 1929a.
LOBATO, Monteiro. Correspondência a Renato Kehl. Fundo Pessoal Renato Kehl – DAD-COC. 9 out. 1929b.
LOBATO, Monteiro. O escândalo do petróleo e do ferro. 7. ed. São Paulo: Brasiliense. 1955.
LOBATO, Monteiro. Mr. Slang e o Brasil. In: Lobato, Monteiro. Mr. Slang e o Brasil e problema vital. 7. ed. São Paulo: Brasiliense. p.5-126. 1956a.
LOBATO, Monteiro. O presidente negro. In: Lobato, Monteiro. A onda verde e o presidente negro. 7. ed. São Paulo: Brasiliense. p. 125-324. 1956b.
LOBATO, Monteiro. Problema vital. In: Lobato, Monteiro. Mr. Slang e o Brasil e problema vital. 7. ed. São Paulo: Brasiliense. p.223-329. 1956c.
LOBATO, Monteiro. A Barca de Gleyre. 10. ed. São Paulo: Brasiliense. 1961a. v. 1.
LOBATO, Monteiro. A Barca de Gleyre. 10. ed. São Paulo: Brasiliense. 1961b. v. 2.
LOBATO, Monteiro. Literatura do Minarete. 2. ed. São Paulo: Brasiliense. 1961c.
LOBATO, Monteiro. Cartas escolhidas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense. 1964a. v. 1.
LOBATO, Monteiro. Cartas escolhidas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense. 1964b. v. 2.
LOBATO, Monteiro. Conferências, artigos e crônicas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense. 1964c.
LOBATO, Monteiro. America. 13. ed. São Paulo: Brasiliense. 1966.
LOBATO, Monteiro. Negrinha. In: Lobato, Monteiro. Contos completos. São Paulo: Biblioteca Azul. p.339-518. 2014a.
LOBATO, Monteiro. Urupês. In: Lobato, Monteiro. Contos Completos. São Paulo: Biblioteca Azul. p.37-191. 2014b.
MURARI, Luciana. “Brasil, ficção geográfica”: ciência e nacionalidade no país d’Os Sertões. Belo Horizonte: FAPEMIG. 2007.
NOGUEIRA, Eloisa Alves. O eu e o outro: o legado de dois pais contado por Machado de Assis e Godofredo Rangel. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017. Disponível em: <https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/6564>. Acesso em: 4 ago. 2019.
PENNA, Belisário. Saneamento dos sertões I. Correio da Manhã, p.2. 1916.
PRADO, Paulo. Retrato do Brasil. 2. ed. São Paulo: IBRASA. 1981.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Notas sobre os typos anthropologicos do Brasil. In: Couto, M. (org.). Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: Actas e Trabalhos. Rio de Janeiro. p.119-148. 1929.
SANTOS, Ricardo Augusto dos. O manifesto eugenista. In: Penna, Antonio Gomes (Org.). Manifestos Políticos do Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: E-Papers. p.53-63. 2008.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil; 1870-1930. São Paulo: Schwarcz. 2004.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na primeira República. 4. ed. São Paulo: Brasiliense. 1995.
SKIDMORE, Thomas E. Black into white: race and nationality in Brazilian thought. Durham: Duke University Press Books. 1992.
SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a eugenia negativa e a construção da nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/6134>. Acesso em: 12 maio. 2018.
SOUZA, Vanderlei Sebastião de. As idéias eugênicas no Brasil: ciência, raça e projeto nacional no entre-guerras. História em Reflexão, v.6, p.1-23. 2012.
SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A eugenia brasileira e suas conexões internacionais: uma análise a partir das controvérsias entre Renato Kehl e Edgard Roquette-Pinto, 1920-1930. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.23, n.1, p.93-110. 2016.
STEPAN, Nancy Leys. Eugenia no Brasil, 1917-1940. In: HOCHMAN, Gilberto; ARMUS, Diego (Orgs.). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: FIOCRUZ. p.331-391. 2004.
TAMANO, Luana Tieko Omena et al. O cientificismo das teorias raciais em O cortiço e Canaã. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.18, n.3, p.757-774. 2011.
TODOROV, Tzvetan. Imperfect garden: the legacy of humanism. Princeton: Princeton University Press. 2002.
TURDA, Marius. Modernism and eugenics. Nova York: Palgrave MacMillan. 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à Revista Maracanan o direito de publicação, sob uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, a qual permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Os dados e conceitos abordados são da exclusiva responsabilidade do autor.
A Revista Maracanan está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.