Apresentação

Autores

  • Fátima Regis

DOI:

https://doi.org/10.12957/logos.2009.373

Resumo

A articulação entre os processos de construção de subjetividade e o de­senvolvimento tecnológico não é em si uma novidade. Mas as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) se entrelaçam de forma tão inextricável com as práticas subjetivas contemporâneas que embaralham as fronteiras entre subjetividade e tecnologia, que na modernidade pareciam estar bem definidas.

As TIC permeiam as esferas sociais, políticas, econômicas, artísticas, profissionais e de consumo, e reconfiguram os limites entre local e global, presença e ausência, produção e consumo, individual e coletivo. Hoje, pratica mente não é possível pensar modos de ser e de viver sem se referir à articula­ção com a tecnologia. Embora fascinante, esta relação é densa e exige análises profundas e cuidadosas. O arsenal teórico que explica as TIC como meros fetiches, ferramentas ou extensões para os sentidos, parece não ser suficiente diante da complexidade de inquietações e desafios que nos são apresentados pela relação subjetividade e tecnologia.
Em La clef de Berlin, Bruno Latour já nos alertava para o modo como os objetos técnicos -como a chave e a fechadura que nos lembram de que não podemos entrar em propriedade alheia – atuam não apenas como ferramentas, próteses ou extensões para os sentidos, mas antes como mediadores que nos alertam nas tarefas de conduta moral e social. Hoje, as redes de comunicação, computadores, smartphones, ipods e consoles de games modulam diversas de nossas competências cognitivas (físicas, sensoriais, perceptivas, intelectuais e sociais), operando como agentes ativos dos processos mentais e subjetivos.

Os textos que compõem o Dossier Tecnologias de Comunicação e Subjetividades resultam das reflexões teóricas e metodológicas de seus autores para fa zer frente aos desafios propostos pelas relações entre Tecnologias e Subjetividades.

Ieda Tucherman e Ericson Saint Clair investigam as transformações por que passam as subjetividades contemporâneas atentando para o modo como a somatização dos processos subjetivos parecem produzir um recrudescimento das disciplinas modernas sobre o corpo na atualidade.

Em Escrita, subjetividade e tecnologia de comunicação, Márcio Gonçalves faz uma análise minuciosa do advento da escrita para contra-argumentar a tese do determinismo tecnológico defendida por autores como Marshall MacLuhan e Eric Havelock. Gonçalves evidencia que os efeitos de uma tecnologia no seio da sociedade são o resultado de complexas negociações e embates que envol vem indivíduos e grupos.

Por meio da análise de peças publicitárias e outros discursos de apelo ao consumo, a pesquisadora Denise Guimarães discute como as redes sociais e tecnologias móveis, ao engendrarem novas formas de percepção de si e do outro, transformam a construção de subjetividade dos jovens na atualidade.

Compreendendo que a imagem e o espetáculo constituem eixos estrutu­rantes das práticas sociais, econômicas e subjetivas contemporâneas, Gisela Castro e Rose Melo discutem as imbricações entre comunicação, consumo e subjetivida de destacando suas possibilidades de assujeitamento e suas linhas de fuga.

No texto Atores em Rede - Subjetividades e Desejos em Expansão, Brasilina Passarelli, Drica Guzzi, Hernani Dimantas e Juliana Kiyomura Moreno apre sentam resultados de uma pesquisa qualitativa que investiga o comportamento de usuários de programas de inclusão digital em redes sociais com o objetivo de identificar usos e apropriações de tecnologia de informação e modos de produção de subjetividade.

Em tempos de aceleração tecnológica e modernidade líquida, Márcio Acselrad e Francisco Neto buscam compreender as modulações no sentido da expressão identitária “Ceará moleque”, por meio de autores como Stuart Hall e Zygmunt Bauman.

Em Mundos Virtuais e Identidade Social: Processos de Formação e Mediação através da Lógica do Jogo, José Carlos Ribeiro e Thiago Falcão analisam os pro cessos de formação de identidades sociais online nos ‘mundos virtuais’. Os au tores defendem que o espaço do jogo é um fator de singularização do processo de criação de identidades sociais, operando mais como campo de mediação do que de separação entre jogo e realidade.

O arquiteto venezuelano Bello Marcano discute como as tecnologias de informação transformaram a experiência urbana, dotando-a de um imaginário cinematográfico de fantasia, alucinação e estímulos, que exalta as sensações e a corporeidade.

Na sessão Conexões, o pesquisador francês Jean-Paul Laurens faz uma genealogia sobre a divulgação científica enfatizando a importância da comuni cação para o processo e o desenvolvimento científico.

A pesquisadora Ilana Feldman resenha o livro O show do eu – a intimidade como espetáculo, de Paula Sibilia e a especialista em games, Letícia Perani resenha a obra Racing the Beam: the Atari Vídeo Computer System, de Nick Monfort e Ian Bogost, recém-lançada pelo Massachussets Institute of Technology.

Buscando refletir sobre as práticas contemporâneas nas interseções entre tecnologia, comunicação e subjetividade, esta edição da Revista Logos arti cula processos subjetivos a tecnologias que se estendem da escrita aos games.

Desejamos a todos uma boa leitura.

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Publicado

2010-03-15

Como Citar

Regis, F. (2010). Apresentação. Logos, 16(1), 7–8. https://doi.org/10.12957/logos.2009.373