Por uma Leitura Socioeducativa Crítica:

o Ardil Educativo e o Encarceramento Juvenil Negro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/intellectus.2024.81991

Palavras-chave:

Socioeducação, Juventude, Encarceramento

Resumo

Esse trabalho aborda o modelo socioeducativo brasileiro a partir do caso empírico do Distrito Federal. Estabelecida a importância da legislação consubstanciada no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, quanto a sua relevância na concretude cotidiana da vida sob tutela do Estado, pensamos necessário avançar no debate crítico acerca da essência e implicações desse novo paradigma. Pois, apesar de seus anseios formais, persiste a velha lógica da seletividade punitiva; como antes, o atendimento socioeducativo segue encarcerando a juventude periférica– agora sob novos discursos. Reafirma-se, assim, o cárcere como o ápice de trajetórias sociais excludentes, lastreadas pela negação de direitos, sob a vigilância de instituições punitivistas. Logo, a socioeducação em sua prática diária reverbera a colonialidade dos ecos racistas fundantes desse país, ao afirmar o encarceramento juvenil negro sob a égide da educação.

Biografia do Autor

Edson Mendes da Silva, Universidade de Brasília

Doutorando em Educação - Universidade de Brasília (UnB), Brasil

 

Maria Lidia Bueno Fernandes, Universidade de Brasília

Doutora em Geografia - Universidade de São Paulo (USP), Brasil 

Professora pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação  da Universidade de Brasília (UnB), Brasil 

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Publicado

2024-05-21

Como Citar

Mendes da Silva, E., & Bueno Fernandes, M. L. (2024). Por uma Leitura Socioeducativa Crítica:: o Ardil Educativo e o Encarceramento Juvenil Negro. Intellèctus, 23(1), 323–342. https://doi.org/10.12957/intellectus.2024.81991