O projeto de transição brasileiro: operação democracia autoritária

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/intellectus.2023.77775

Palavras-chave:

impunidade, autoritarismo, subjetividade

Resumo

O artigo versa sobre o modelo de transição implementado pelo Estado brasileiro e sua relação com os contornos e os modos de operar da democracia. Com foco nos efeitos de dominação, argumentamos que a perpetuação da autoanistia possibilita a continuidade e a atualização de mecanismos de modelação das condutas. Na análise a impunidade emerge como dispositivo de gestão da memória, das subjetividades e da política. No processo, sem desconsiderarmos as diferenças entre ditadura e democracia, assim como as lutas dos movimentos sociais por memória e justiça, observamos que o Estado ditatorial e as elites políticas parceiras foram hábeis na implementação de seu projeto de transição. Tiveram sucesso em nos impor pelo alto e sem rupturas profundas um modelo de democracia do tipo autoritário.

Biografia do Autor

Silvia Brandão, Unifesp

Graduada em história (PUC/SP). Especialista em Direitos Humanos (ESPGE/SP). Mestra e doutora em filosofia (Unifesp). Pós-doutoranda (Unifesp-Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais/Caaf).

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Publicado

2023-12-12

Como Citar

Brandão, S. (2023). O projeto de transição brasileiro: operação democracia autoritária. Intellèctus, 22(2), 91–114. https://doi.org/10.12957/intellectus.2023.77775