Processo Nº 701: o torpedeamento do navio Antonico e as suas repercussões no imediato pós-guerra

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2022.64413

Palavras-chave:

Segunda Guerra Mundial. Guerra Submarina. Crimes de Guerra.

Resumo

Na madrugada do dia 28 de setembro de 1942, o navio brasileiro Antonico navegava próximo da Guiana Francesa quando foi canhoneado pelo submarino alemão U-516. Segundo o relato de um imediato que sobreviveu ao ataque, logo após o navio arder em chamas, os tripulantes foram metralhados quando já se encontravam em botes salva-vidas. Dos 40 marinheiros a bordo do navio, todos homens, 16 morreram em decorrência da agressão, incluindo o seu Capitão, Américo de Moura Neves. Uma vez terminada a Segunda Guerra Mundial, o Ministério da Marinha atendeu a um requerimento do Tribunal Marítimo Administrativo e agiu para indiciar dois oficiais do U-516 por crimes de guerra e julgá-los no Brasil. O caso evoluiu para uma investigação internacional conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores e abalizada pela Consultoria-Geral da República. Este artigo examina as circunstâncias históricas do torpedeamento do Antonico e a tentativa inédita do Tribunal Marítimo Administrativo brasileiro em levar os dois marítimos alemães à justiça no imediato pós-guerra. Na pesquisa, foram utilizados documentos inéditos do Arquivo Histórico do Itamaraty, da Biblioteca do Tribunal Marítimo e do Centro de História e Documentação Diplomática do Itamaraty. A investigação das fontes revelou, dentre outras coisas, duas posições antagônicas dentro do Estado brasileiro: enquanto que o parecer do Consultor-Geral da República concluiu que a justiça brasileira não tinha competência para julgar os dois oficiais alemães no Brasil, o parecer do Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores teve entendimento oposto.

 

Biografia do Autor

Bruno Leal Pastor Carvalho, Universidade de Brasília

Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília. Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Graduado em História pela Universidade do Estado Rio de Janeiro. 

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Publicado

2022-08-25

Como Citar

Leal Pastor Carvalho, B. (2022). Processo Nº 701: o torpedeamento do navio Antonico e as suas repercussões no imediato pós-guerra. Revista Maracanan, (30), 248–275. https://doi.org/10.12957/revmar.2022.64413