Da barbárie à memória: imagens urbanas como espaços de resiliência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2020.47751

Palavras-chave:

Memórias Traumáticas, Turismo da Dor, Lugares de Memória, Resiliência

Resumo

Nos anos 1998, 2005 e 2017, ocorreram três mortes criminosas em três espaços próximos entre si, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Três jovens de classe média foram brutalmente assassinados e ganharam homenagens póstumas, de uma escultura e dois grafites respectivamente. E no ano de 2018 a vereadora Marielle Franco foi assassinada, ensejando similar compreensão social e ressignificando o local de ocorrência do crime, e muitos outros, com intervenções artísticas. Tais espaços e seu entorno, assim como tantos outros que pontuam as cidades brasileiras, bem poderiam receber a alcunha de polígono da violência ou circuito da dor, por retratarem pessoas mortas. Diante desta realidade, a pesquisa aqui apresentada trata de uma reflexão analítica à luz dos conceitos de “recolhimento” e “distração” de Walter Benjamin, com a proposta comunicológica de Vilém Flusser, tendo ainda por base a poética da ausência de Fernando Catroga e os estudos culturais sobre a memória de Aleida Assmann, como uma proposta para a devida compreensão dessas práticas de intervenções urbanas enquanto fenômeno e sua função social. Por fim, as análises realizadas permitiram inferir que essa forma de ressignificação do sofrimento gera espaços de resiliência, uma vez que materializam a memória da perda no ambiente urbano, por meios de marco artístico, retratando uma última imagem positiva do falecido, para que outros transeuntes vejam e sejam afetados pelo conhecimento de seus nomes e suas histórias.

Biografia do Autor

Hércules da Silva Xavier Ferreira, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Doutorando em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Especialista em Produção Cultural pela Universidade Cândido Mendes; graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Luana Campos, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Professora "recém-doutora" no Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Doutora em Quaternário, Materiais e Culturas pela Universidade de Trás-os-Montes - Alto Douro; Mestra em Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestres pela Universidade Tras-dos-Montes - Alto Douro; Especialista em Sistema de Informação Geográfica pelo Instituto Politécnico de Tomar; Especialista em Antropologia Forense pela Universidade de Coimbra; graduada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Pedro Gustavo Morgado Clerot, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Técnico em Ciências Sociais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Especialista em Gestão de Políticas Públicas para a Cultura e graduado em História e em Ciências Sociais, com habilitação em Antropologia, pela Universidade de Brasília.

Referências

ADORNO, Theodor W. Industria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002; BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1987.

ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas, SP: Ed.Unicamp, 2011.

BARROS, Anna. Espaço, lugar e local. Revista USP, São Paulo, n. 40, p. 32-45, fev. 1999.

BASSO, Keith H. Wisdom Sits in Places: Landscape and Language Among the Western Apache. Albuquerque: University of New Mexico Press, 1996.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BINFORD, S. R. A structural comparison of disposal of the dead in the Mousterian and the Upper Paleolithic.Southwestern Journal of Anthropology, v. 24, n. 2, 139-154, Summer 1968.

CARVALHO, Ronaldo Cerqueira. Rio de Janeiro - uma cidade conectada por túneis. Instituto Pereira Passos - Armazém de DADOS, Rio de Janeiro, v. 4, p. 1-57, 2004.

CASTRIOTA, Leonardo. Lidando com um patrimônio sensível. O caso de Bento Rodrigues, Mariana MG. Arquitextos, São Paulo, ano 20, n. 230.00, jul. 2019.

CATROGA, Fernando. O culto dos mortos como uma poética da ausência. ArtCultura, Uberlândia, v. 12, n. 20, p. 163-182, jan.-jun. 2010.

FERREIRA, Soraya Venegas; ARCO, Débora Galeano. De pichação à manifestação artística: Um estudo dos graffitis de ACME 23 no âmbito da folkcomunicação. Revista Internacional de Folkcomunicação, v. 12, p. 55-73, 2014.

FLUSSER, Vilém. Comunicologia: reflexões sobre o futuro: as conferências de Bochum. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a Problemática dos Lugares. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, São Paulo, v. 10, p. 7-28, out. 2012.

SOTRATTI, Marcelo Antonio. A ideologia espacial na patrimonialização e gestão de bens culturais em áreas gentrificadas. Boletim Campineiro de Geografia, Campinas (SP), v. 6, p. 303-323, 2016.

VIEIRA, Sidney Gonçalves. Cidade, memória e hipermodernidade: apontamento para enteder a cidade contemporânea. In: KNACK, Eduardo. R. J.; FERREIRA, Maria L. M.; POLONI, Rita J. S. (orgs.). Memória & Patrimônio - Temas e Debates. Porto Alegre: Editora FI, 2018.

XAVIER, Janaína; et al. O princípio de falso histórico brandiano aplicado na demolição e reconstrução do patrimônio ferroviário de Artur Nogueira. Anais do 3º Simpósio Científico do ICOMOS Brasil. Belo Horizonte, MG: Even3, 2019.

Downloads

Publicado

2020-05-31

Como Citar

Xavier Ferreira, H. da S., Campos, L., & Clerot, P. G. M. (2020). Da barbárie à memória: imagens urbanas como espaços de resiliência. Revista Maracanan, (24), 653–675. https://doi.org/10.12957/revmar.2020.47751