Da barbárie à memória: imagens urbanas como espaços de resiliência
Resumo
Nos anos 1998, 2005 e 2017, ocorreram três mortes criminosas em três espaços próximos entre si, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Três jovens de classe média foram brutalmente assassinados e ganharam homenagens póstumas, de uma escultura e dois grafites respectivamente. E no ano de 2018 a vereadora Marielle Franco foi assassinada, ensejando similar compreensão social e ressignificando o local de ocorrência do crime, e muitos outros, com intervenções artísticas. Tais espaços e seu entorno, assim como tantos outros que pontuam as cidades brasileiras, bem poderiam receber a alcunha de polígono da violência ou circuito da dor, por retratarem pessoas mortas. Diante desta realidade, a pesquisa aqui apresentada trata de uma reflexão analítica à luz dos conceitos de “recolhimento” e “distração” de Walter Benjamin, com a proposta comunicológica de Vilém Flusser, tendo ainda por base a poética da ausência de Fernando Catroga e os estudos culturais sobre a memória de Aleida Assmann, como uma proposta para a devida compreensão dessas práticas de intervenções urbanas enquanto fenômeno e sua função social. Por fim, as análises realizadas permitiram inferir que essa forma de ressignificação do sofrimento gera espaços de resiliência, uma vez que materializam a memória da perda no ambiente urbano, por meios de marco artístico, retratando uma última imagem positiva do falecido, para que outros transeuntes vejam e sejam afetados pelo conhecimento de seus nomes e suas histórias.
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DOI: https://doi.org/10.12957/revmar.2020.47751
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