A cidade “perigosa” e sua instituição “tranquilizadora”: o Recife no contexto da reforma prisional do Oitocentos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2020.47605

Palavras-chave:

Casa de Detenção do Recife, Modernidade Penal, Comércio

Resumo

Este artigo enfatiza a discussão em torno das representações e usos efetivos da Casa de Detenção do Recife no contexto da reforma prisional do império. Símbolo da civilidade e modernidade penal, mas também de controle e segurança pública, a Casa de Detenção do Recife era apreendida pelos gestores da cidade como um instrumento cuja finalidade era dirimir e sanear as práticas criminosas de parcela da população reputada como desregrada e afeita ao delito. Por outro lado, um conjunto de segmentos populares, longe de endossar essa representação da instituição prisional, apropriaram-se da prisão como uma zona de comércio. Entre a “instituição tranquilizadora” e a “casa de comércio”, entre as representações da parcela da elite e as usos efetivos da instituição, que reconstituiremos aspectos da história da reforma prisional tal qual vivenciada no Recife na segunda metade do Oitocentos.

Biografia do Autor

Aurélio de Moura Britto, Centro universitário da Vitória de Santo Antão

Docente do curso de Licenciatura em História do Centro Universitário da Vitória de Santo Antão. Doutor, Mestre e graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco.

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Publicado

2020-09-30

Como Citar

Britto, A. de M. (2020). A cidade “perigosa” e sua instituição “tranquilizadora”: o Recife no contexto da reforma prisional do Oitocentos. Revista Maracanan, (25), 352–376. https://doi.org/10.12957/revmar.2020.47605