Do “mercado imperfeito”: sobre corpos, africanos e médicos no Rio de Janeiro oitocentista

Autores

  • Iamara da Silva Viana Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
  • Flávio dos Santos Gomes Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2019.40196

Palavras-chave:

Escravidão Atlântica, Corpo, Médicos

Resumo

Neste artigo abordamos algumas construções tópicas sobre o corpo africano na primeira metade do século XIX. Consideramos as décadas de 30 a 50 – contextos de expansão econômica e entrada massiva de africanos na cidade do Rio de Janeiro – enquanto importantes na constituição da ideia de corpo para os africanos escravizados, nas suas dimensões físicas e corporais. Com base em séries de anúncios de jornais, de registros policiais, de relatos de viajantes e manuais agrícolas escritos por médicos analisamos as montagens de algumas narrativas sobre o corpo dos africanos, argumentando como vários sinais diacríticos foram acionados por mercadores, senhores, médicos e agentes policiais.

Biografia do Autor

Iamara da Silva Viana, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Professora do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio; atuando no Ensino de História. Pós-doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro com Estágio na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. Mestre em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ. Bacharel e Licenciada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Coordenadora PIBID História PUC-Rio; Coordenadora Pós em África e Cultura Afrodescendente pólo Duque de Caxias PUC-Rio.

Flávio dos Santos Gomes, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Licenciatura em Historia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1990), bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 1989), mestrado em História Social do Trabalho (1993) e doutorado em História Social (1997), ambas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua como professor permanente nos programas de pós-graduação em História Comparada, no Instituto de História e em Educação, na Faculdade de Educação, ambos na UFRJ. É professor colaborador do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tem publicado livros, coletâneas e artigos em periódicos nacionais e estrangeiros, atuando na áreas de Brasil colonial e pós-colonial, escravidão, amazônia, fronteiras, campesinato e pós-emancipação. Em 2009 obteve a John Simon Guggenheim Foundation Fellowship e em 2014 (junho-julho) foi pesquisador visitante da New York University (NYU).Realizou estágios de pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP, 2008-2009) e na Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV, 2012-2013). Foi pesquisador Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2014-2017). Desenvolve pesquisas em história comparada, cultura material, escravidão, história da educação e instituições escolares para escravizados e libertos no Brasil Oitocentista, Educação Quilombola e pós-emancipação nas Américas, especialmente Venezuela, Colômbia, Guiana Francesa e Cuba. Atua no Laboratório de Estudos de História Atlântica das sociedades coloniais e pós-coloniais (LEHA) do Instituto de História da UFRJ.

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Publicado

2019-07-11

Como Citar

Viana, I. da S., & Gomes, F. dos S. (2019). Do “mercado imperfeito”: sobre corpos, africanos e médicos no Rio de Janeiro oitocentista. Revista Maracanan, (21), 71–96. https://doi.org/10.12957/revmar.2019.40196