Uma lágrima sobre a cicatriz: o desmonte da universidade pública como desafio à reflexão histórica (#UERJresiste)

Autores

  • Francisco Gouvea de Sousa Professor Adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Géssica Guimarães Professora Adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Thiago Lima Nicodemo Professor Adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2017.28598

Palavras-chave:

Historicidade, História da Historiografia, Universidade

Resumo

O ofício do historiador tem sido objeto de reflexão ao longo de toda a tradição historiográfica no Ocidente. Tucídides questionou as fontes e o método da História de Heródoto, avaliando as possibilidades de um discurso verdadeiro sobre o passado e desde então muitos já se dispuseram a tarefa semelhante. Mas além desse aspecto heurístico de seu trabalho, os historiadores imprimem em sua obra uma série de seleções, intencionais ou não, que revelam a feição subjetiva de seu fazer. É sobre essa característica que trataremos aqui. Se a subjetividade deixou de ser o calcanhar de Aquiles dos historiadores, nos parece, contudo que ainda há espaço para o debate acerca de sua atitude face ao seu objeto de pesquisa e suas escolhas na construção da narrativa sobre o passado. Esse trabalho se propõe a somar ao debate acerca da importância da construção de narrativas sobre o passado no contexto contemporâneo e à compreensão da dimensão temporal da escrita da história, admitindo a história da historiografia como uma fonte para a explorar sua historicidade.

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Publicado

2017-07-20

Como Citar

Sousa, F. G. de, Guimarães, G., & Nicodemo, T. L. (2017). Uma lágrima sobre a cicatriz: o desmonte da universidade pública como desafio à reflexão histórica (#UERJresiste). Revista Maracanan, (17), 71–87. https://doi.org/10.12957/revmar.2017.28598