O dispositivo da cultura escrita na constituição do sujeito infantil moderno: evidências em impressos portugueses (finais do século XVII e século XVIII)

Fernando Cezar Ripe, Giana Lange Do Amaral

Resumo


O presente artigo tem por objetivo apresentar um conjunto de obras que foram publicadas e/ou traduzidas em Portugal entre o final do século XVII e o século XVIII, que versaram sobre os cuidados relativos à infância. Tais produções impressas foram aqui tomadas como tecnologias da subjetividade e, portanto, operaram efetivamente no processo de constituição do sujeito infantil moderno. A partir de uma perspectiva histórica e filosófica caracterizamos a modernidade como sendo condição de possibilidade para a proliferação discursiva sobre a infância. Para uma melhor sistematização das obras, constituímos seis unidades tipológicas, quais sejam: as que enunciam os cuidados que se deveriam ter para com o corpo do sujeito infantil, da sua nutrição, dos bons costumes, das morais que se deveriam edificar, da manutenção das virtudes cristãs e, por último, dos relativos aos processos educativos.


Palavras-chave


Sujeito; Infância; Modernidade; Cultura Escrita

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DOI: https://doi.org/10.12957/revmar.2017.27125

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