“Autobiografias” de Angola: algumas considerações acerca de um gênero

Autores

  • Madalina Elena Florescu Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

DOI:

https://doi.org/10.12957/revmar.2017.27121

Palavras-chave:

Textualidade, Autobiografia, Historicidade, Angola

Resumo

Este artigo discute a textualidade como categoria do discurso antropológico e o tratamento da autobiografia nas ciências sociais. A conceptualização do texto como um tecido de palavras urdido no quadro de um conjunto de conceitos e convenções - desde os mais ritualizados até os mais informais – é contrastada com uma ideia do texto como artefato no qual o passado é legível não só como palavras, mas também como rasgos. Em seguida, é problematizado o pressuposto de uma diferença radical entre memória histórica e memória autobiográfica que está na base de uma oposição entre biografia, como método em sociologia, autobiografia como literatura. A metáfora do “palimpsesto” é usada como ferramenta de análise de uma autobiografia de Angola cuja historicidade é legível na relação entre palavras e rasgos, interrogando os limites entre conhecimento subjetivo e conhecimento objetivo.

Referências

ARAÚJO, Melvina. Joseph Wanjie, Kikuyu Catholic Catechist. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, v. 9, n. 1, p. 113-130, 2012.

ASSIS JUNIOR, António. Dicionário Kimbundu-Português. Luanda: Argente Santos e Comp., [s.d.].

BARBER, Karin. A New Text and a New Public. Anthropology of this Century, n. 10, 2014. Disponível em: http://aotcpress.com/articles/text-public.

BARBER, Karin. The anthropology of texts, persons and publics: oral and written culture in Africa and beyond. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

BECKER, Howard S. Biographie et mosaique scientifique. Actes de la recherche en sciences sociales, n. 62-63, p. 105-110, 1986.

BLOCH, Maurice. Mémoire autobiographique et mémoire historique du passé éloigné. Enquête, 2, 1995.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

CALAVIA-SAEZ, Oscar. Autobiografia e sujeito histórico indígena. Novos Estudos, n. 76, p. 79-195, 2006.

CAVALCANTE PADILHA, Laura. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX. 2a ed. Rio de Janeiro: ed. UFF, 2007.

CHAVES, Rita. A formação do romance angolano: entre intenções e gestos. São Paulo: Coleção Via Atlântica, 1999.

CHENU, Marie Dominique. Imaginatio: note de lexicographie médiévale. Studi di lessicografia medievale. Leo S. [s.l.]: Olschki Editore, 2001.

COELHO, Maria Claudia, et al. A experiência da sujeição à autoridade policial: notas sobre a articulação entre cognição e emoção na vida pública. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 31, n. 90, p. 151-165, 2016.

DEMETZ, Peter. Introduction. In: BENJAMIN, Walter. Reflections: Essays, Aphorisms, Autobiographical Writings. San Diego: Harcourt Press, 1978.

DERRIDA, Jacques. Monolingualism of the Other or the Prosthesis of Origin. Trad.: Patrick Mensah. Bloomington: Stanford University Press, 1998.

DIAS DE CARVALHO, Henrique. Ethnografia e Historia Tradicional dos povos da Lunda. Lisboa Imprensa Nacional, 1890.

DURKHEIM, Émile. Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

ELIAS, Norbert. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

EVERDOSA, Carlos. Roteiro da Literatura Angolana. 4a ed. Luanda: UEA, 1985.

FABRE, Daniel. Jeu et enjeu ethnographiques de la biographie. L’Homme, n. 195-196, p. 7-20, 2010.

FARDON, Richard. Original minds: Mary Douglas in conversation with Eleanor Wachtel. In: FARDON, Ricgard (org). Mary Douglas: A Very Personal Method. Anthropological Writings Drawn from Life. London: Sage, 2013.

FILESI, Teobaldo. Missioni e lingue locali nell’antio Congo e nell’Angola (metá 1500-inizio 1800). Euntes Docete, n. XXXII, p. 211-252, 1979.

GRIFFITHS, Gregory. Trained to tell the truth: Missionaries, Converts, and Narration. In: ETHERINGTON, Norman (org). Missions and Empire. Oxford: Oxford University Press, 2005.

KELM, Miriam Denise. Literaturas africanas: da recolha de dados e imagens à expressão identitária e esteticamente reconhecível. Navegações, v. 4, n. 2, p. 239-244, 2011.

MESQUITELA LIMA, A.G. Review: a propos de deux ouvrages de René Pélissier sur le colonialisme portugais em Angola. Cahiers dÉtudes Africaines, v. 20, n. 80, p. 509-514, 1980.

MOURÂO, F. A. A. A sociedade angolana através da literatura: a Lunda na obra de Castro Soromenho. 2015. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo.

MPLA. História de Angola. Centro de Estudos Angolanos. Porto: Afrontamento, 1965.

MUDIMBE, Valentin Y. Entre Les Eaux: Dieu, Un Prêtre, la Révolution. Paris: Présence Africaine, 1973.

MUDIMBE, Valentin Y. Parables and Fables: Exegesis, Textuality and Politics in Central Africa. Madison: University of Wisconsin Press, 1991.

MUDIMBE, Valentin Y. Tales of Faith: Religion and Political Performance in Central Africa. London: Athlone Press, 1997.

NASCIMENTO, Alexandre do. Minhas origens e aprendizagem: uma autobiografia. Luanda: Ed. MAPESS, 2006.

NETO, Agostinho. Náusea: conto. O artista: desenho. Lisboa: Edições 70, 1980.

PASSERON, Jean-Luc. Biographies, flux, itinéraires, trajectoires. Revue française de sociologie, v. 31, n. 1, p. 3-22, 1990.

PEPETELA. Lueji, o nascimento de um império. São Paulo: Leya, 2015.

RICARD, Alain. La publication de la literature africaine en traduction. IFAS Working Paper Series/Les Cahiers de l’IFAS, n. 6, p. 58-62, 2005. Disponível em : https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00797969/document.

RODRIGUES, Ângela Ramas. Anglofonia, literaturas em línguas africanas e limites da teoria pós-colonial. IPOTESI, v. 14, n. 2, p. 13-23, 2010.

RODRIGUES, Ângela Ramas. Beyond Nativism: an interview with Ngũgĩ wa Thiong’o. Research in African Literatures, v. 35, n. 3, p. 161-167, 2004.

ROSA, Maria Carlota. Uma língua Africana no Brasil colônia de Seiscentos: o quimbundo ou língua de Angola na ‘Arte’ de Pedro Dias, SJ. Rio De Janeiro: FAPERJ, 2013.

ROTTGER-ROSSLER, Birgit. Autobiography in question. On Self Presentation and Life Description in an Indonesian Society. Anthropos, n. 4-6, p. 365-373, 1993.

SILVA, Raquel. Figurações da Lunda: experiência histórica e formas literárias. 2007. Tese (Doutoramento em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo.

SIMMEL, Georg. The Sociology of Secrecy and Secret Societies. American Journal of Sociology, v. 11, n. 4, p. 441-498, 1906.

Downloads

Publicado

2017-01-31

Como Citar

Florescu, M. E. (2017). “Autobiografias” de Angola: algumas considerações acerca de um gênero. Revista Maracanan, (16), 66–84. https://doi.org/10.12957/revmar.2017.27121