Condições de produção e difusão do personagem Zé Povo no Brasil: um estudo sobre caricaturas políticas na revista ilustrada O Malho (1900-1910)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/intellectus.2020.47917

Palavras-chave:

revistas ilustradas, identidade nacional, Zé Povo

Resumo

Investiga-se condições de produção e difusão das revistas ilustradas no Rio de Janeiro na virada do XIX e o papel dessa imprensa na construção da identidade nacional. A hipótese aponta os espaços de circulação dos agentes e as dinâmicas de importação de valores estéticos, modelos gráficos e técnicas de impressão europeias. Nesse contexto, a emergência do Zé Povo e sua reprodução massiva em caricaturas políticas e de costumes é exemplar. São acionadas trajetórias escolares e profissionais dos agentes para uma análise de redes, assim como instâncias de consagração e militância para uma análise de correspondências múltiplas (ACM). Os resultados indicam relações estreitas entre Brasil e Portugal na formação das “elites culturais” e uma não especificação da ocupação “caricaturista” que transitava entre os campos da arte, dos intelectuais e da política.

Biografia do Autor

Janine Figueiredo de Souza Justen, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Graduação em Jornalismo pela ECO/UFRJ, Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura pela mesma instituição. Laboratório de História dos Sistemas de Pensamento/IDEA.

Maurício Izelli Doré, Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Graduação em Ciências Sociais pela UFPR, Mestrado em Ciência Política pela UFRGS, Doutorando em Sociologia pela UFS. Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP).

Referências

Fontes

Correio da Manhã, abril de 1957. Acervo: Fundação Biblioteca Nacional.

Lanterna Mágica, junho de 1875. Acervo: Hemeroteca de Lisboa.

O Malho, setembro de 1902 a dezembro de 1906. Acervo: Fundação Casa de Rui Barbosa.

Referências bibliográficas

BACOT Jean-Pierre (2002). Trois générations de presse illustrée au XIXe siècle. Une recherche en paternité. Réseaux. França, n. 111, pp. 216-234, jan./ago.

BAKHTIN, Mikhail (2010). A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec, 2010.

BARBOSA, Marialva (2010). História Cultural da Imprensa, Brasil: 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad.

BARBOSA, Marialva (2013). História da Comunicação no Brasil. Petrópolis: Vozes.

BOISSEVAIN, Jeremy (1979). Network Analysis: a Reappraisal. Current Anthropology. Estados Unidos, vol. 20, n. 2, pp.392-394.

BORDIGNON, Rodrigo (2014). “Elites” políticas e intelectuais no início da República (1891-1895). In: Anais do 38º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Disponível em: http://www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/38-encontro- anual-da-anpocs/gt-1/gt13-1/8944-elites-politicas-e-intelectuais-no-inicio-da- republica-1891-1895. Acesso: 16 jan. 2020.

BORDIGNON, Rodrigo (2016). As origens e o significado do regime republicano: interpretações em disputa. Anos 90. Brasil, vol. 23, n. 43, pp. 235-266.

BOTELHO, Tarcisio (2005). Censos e construção nacional no Brasil Imperial. Tempo Social. Brasil, v. 17, n. 1, pp. 321-341.

BOURDIEU, Pierre (2004). Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.

CARDOSO, Pedro (2008). A Lithos Edições de Arte e as transições de uso das técnicas de reprodução de imagens. Dissertação (Mestrado em História Social da Cultura). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

CARVALHO, José Murilo (1987). Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras.

CARVALHO, José Murilo (1990). A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CARVALHO, José Murilo (2008). A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

CHALHOUB, Sidney (2012). A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil Oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

COELHO, Edmundo (1999). As Profissões Imperiais: Medicina, Engenharia e Advocacia no Rio de Janeiro (1822-1930). Rio de Janeiro: Record.

DOS ANJOS, José Carlos (2003). Elites Intelectuais e a Conformação da Identidade Nacional em Cabo Verde. Estudos Afro-Asiáticos. Brasil, v. 25, n. 3, pp. 579-596. DUVAL, Julien (2013). L'analyse des correspondances et la construction des champs.

Actes de la Recherche en Sciences Sociales. França, v. 5, n. 200, pp. 110-123.

FONSECA, Joaquim (1999). Caricatura: A imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios.

FONSECA, Letícia (2016). Uma Revolução Gráfica: Julião Machado e as revistas ilustradas no Brasil, 1895-1898. São Paulo: Edgard Blücher.

FREELAND, Alan (1996). Zé Povinho and John Bull: Portuguese Perceptions of Britain, 1870-90. Portuguese Studies. Portugal, v. 12, pp. 78-88.

JURT, Joseph (2012). O Brasil: um Estado-Nação a ser construído. O papel dos símbolos nacionais, do Império à República. Mana. Brasil, v. 18, n. 3, pp. 471- 509.

KERR, David (2000). Caricature French political culture 1830-1848. Charles Philipon and illustrated press. Oxford: Clarendon Press.

KUSCHNIR, Karina (2001). Trajetória, projeto e mediação na política. In: VELHO, Gilberto; KUSCHNIR, Karina (Orgs.). Mediação, Cultura e Política. Rio de Janeiro: Aeroplano.

LIMA, Herman (1963). História da caricatura no Brasil III. Rio de Janeiro: José Olympio.

LINS, Vera (2010). Em revistas, o simbolismo e a virada de século. In: LINS, Vera; OLIVEIRA, Cláudia; VELLOSO, Monica (Orgs.). O moderno em revistas: representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930, pp. 15-41. Rio de Janeiro: Garamond.

LUCA, Tania Regina (2011). Leituras, projetos e (re)vista(s) do Brasil (1916-1944).

São Paulo: Unesp.

LUCA, Tania Regina (2017). A Ilustração (Paris, 1884-1892) e a Revista de Portugal (Porto, 1889- 1892): diálogos entre projetos editoriais e possibilidades técnicas. Topoi. Brasil, v. 18, n. 34, pp. 91-115.

LUSTOSA, Isabel (1989). Humor e política na Primeira República. Revista USP. Brasil, v. 53, pp. 1-12.

LUSTOSA, Isabel (2000). Insultos Impressos: A guerra dos jornalistas na Independência (1821- 1823). São Paulo: Companhia das Letras.

LUSTOSA, Isabel (2005). Angelo Agostini, Julião Machado e o nascimento de uma caricatura brasileira. História Viva. Brasil, v. 34, pp. 84-87.

MARINGONI, Gilberto (2010). Angelo Agostini: A Imprensa Ilustrada da Corte à Capital Federal, 1864-1910. São Paulo: Devir Livraria.

MARTINS, Ana Lucia (2019). Julião Machado: arte gráfica exalando a tinta da impressão. Estudos Avançados. Brasil, v. 33, pp. 315-320.

MARTINS, Ana Lucia; LUCA, Tania Regina (2008). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Ed. Contexto.

MEDINA, João (2005). Rafael Bordalo Pinheiro e o Zé Povinho, auto-caricatura do português. Línguas e Letras. Portugal, v. 6, n. 11, pp. 137-148.

MICELI, Sergio (2015). Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. PAIVA, Clotilde; MARTINS, Roberto (1983). Um estudo crítico do Recenseamento de

Relatório de pesquisa. Brasília: PNPE.

QUELUZ, Marilda (2012). As andanças de Zé: representações do povo nas revistas curitibanas de humor do início do século XX. Antíteses. Brasil, v. 5, n. 9, pp. 205- 231.

RIBEIRO, Pedro (2010). Memórias de Zé Povo ou memórias individuais? - O povo na retórica da charge e a legitimação dos discursos políticos dos caricaturistas na imprensa carioca do início do século XX. In: Anais do XIV Encontro Regional Anpuh-Rio. Rio de Janeiro: Associação Nacional de História. Disponível em: http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276642118_ARQUIVO

_PedroKrause.pdf. Acesso: 16 jan. 2020.

RODARTE, Marcio; SANTOS JUNIOR, José Maria (2019). A estrutura ocupacional revisitada: uma proposta de correção dos dados do Recenseamento Geral do Império de 1872. In: Anais do XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu: Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/view/3390. Acesso: 16 jan. 2020.

SALIBA, Elias (2002). Raízes do Riso. A representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Companhia das Letras.

SAPIRO, Gisèle (2006). Réseaux, institutions et champ. In: MARNEFFE, Daphné; DENIS, Benoît. Les réseaux littéraires. Bruxelles: Le Cri/CIEL.

SCHERER, Marta (2012). Imprensa e Belle Époque: Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias. Palhoça: Unisul.

SILVA, Marcos (1990). Caricata República: Zé Povo e o Brasil. São Paulo: Marco Zero.

SILVA, Rogério; ALMEIDA, Silvia (2013). Do (in)visível ao risível: o negro e a “raça nacional” na criação caricatural da Primeira República. Estudos Históricos. Brasil, v. 26, n. 52, pp. 316-345.

SILVERMAN, Sydel (1977). Patronage and Community-Nation Relationship in Central Italy. In: SCHMIDT, Steffen; GUASTI, Laura; LANDE, Carl; SCOTT, James. Friends, Followers and Factions. A reader in political clientelism. Berkeley: University of California Press.

TELLES, Angela (2010). Desenhando a nação - Revistas ilustradas do Rio de Janeiro e de Buenos Aires nas décadas de 1860-1870. Brasília: Funag.

VELLOSO, Monica (1995). A modernidade carioca na sua vertente humorística.

Estudos Históricos. Brasil, v. 8, n. 16, pp. 269-278.

VELLOSO, Monica (2010). As distintas retóricas do moderno. In: LINS, Vera; OLIVEIRA, Cláudia; VELLOSO, Monica (Orgs.). O moderno em revistas: representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930, pp. 43-110. Rio de Janeiro: Garamond.

VELLOSO, Monica (2015). Modernismo no Rio de Janeiro: Turunas e Quixotes. Petrópolis: KBR. VISCARDI, Cláudia; SOARES, Lívia (2018). Votos, partidos e eleições na Primeira República: a dinâmica política a partir das charges de O Malho. Revista de História. Brasil, v. 177, pp. 1-31.

Downloads

Publicado

2020-07-17

Como Citar

Justen, J. F. de S., & Doré, M. I. (2020). Condições de produção e difusão do personagem Zé Povo no Brasil: um estudo sobre caricaturas políticas na revista ilustrada O Malho (1900-1910). Intellèctus, 19(1), 114–140. https://doi.org/10.12957/intellectus.2020.47917