A ontologia da carne: a crítica ao dualismo no conceito de corpo fenomenal de Merleau-Ponty
DOI:
https://doi.org/10.12957/ek.2023.79621Resumo
O artigo analisa a crítica ao dualismo cartesiano a partir da ontologia da carne na fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty. Desde seus primeiros trabalhos, Merleau-Ponty criticou a tradição filosófica e argumentou que a relação entre a percepção e a subjetividade com o mundo vivido foi inadequadamente trabalhada pelas modernas teorias do conhecimento, tanto pela Filosofia, quanto pelas Ciências Exatas ou Cognitivas. Em sua última obra, O Visível e o Invisível, influenciado pela fenomenologia de Husserl e de Heidegger, e partindo de onde eles supostamente não avançaram, Merleau-Ponty objetivou retornar ao que ele chamou de ontologia do ser bruto, a fim de explorar a relação da subjetividade encarnada do corpo e a intersubjetividade com o mundo vivido, o que inclui uma nova interpretação fenomenológica sobre a relação do ser com o tempo, espaço e linguagem. Desse modo, a ontologia da carne transcreve os acontecimentos da ordem do ser bruto, em que o corpo, o visível composto do ser, é rompido por um sentido invisível. Portanto, o corpo fenomenal é, na ontologia da carne, uma imbricação correlativa de "coisa'' e "mundo', um quiasma das estruturas do visível e do invisível do mundo do ser onde subjaz uma contundente crítica ao dualismo da modernidade.
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