A ontologia da carne: a crítica ao dualismo no conceito de corpo fenomenal de Merleau-Ponty

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DOI:

https://doi.org/10.12957/ek.2023.79621

Resumo

O artigo analisa a crítica ao dualismo cartesiano a partir da ontologia da carne na fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty. Desde seus primeiros trabalhos, Merleau-Ponty criticou a tradição filosófica e argumentou que a relação entre a percepção e a subjetividade com o mundo vivido foi inadequadamente trabalhada pelas modernas teorias do conhecimento, tanto pela Filosofia, quanto pelas Ciências Exatas ou Cognitivas. Em sua última obra, O Visível e o Invisível, influenciado pela fenomenologia de Husserl e de Heidegger, e partindo de onde eles supostamente não avançaram, Merleau-Ponty objetivou retornar ao que ele chamou de ontologia do ser bruto, a fim de explorar a relação da subjetividade encarnada do corpo e a intersubjetividade com o mundo vivido, o que inclui uma nova interpretação fenomenológica sobre a relação do ser com o tempo, espaço e linguagem. Desse modo, a ontologia da carne transcreve os acontecimentos da ordem do ser bruto, em que o corpo, o visível composto do ser, é rompido por um sentido invisível. Portanto, o corpo fenomenal é, na ontologia da carne, uma imbricação correlativa de "coisa'' e "mundo', um quiasma das estruturas do visível e do invisível do mundo do ser onde subjaz uma contundente crítica ao dualismo da modernidade.

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Biografia do Autor

Nathalia Claro Moreira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Graduada em História pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Mestra em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutoranda em Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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Publicado

2024-12-01

Como Citar

MOREIRA, Nathalia Claro. A ontologia da carne: a crítica ao dualismo no conceito de corpo fenomenal de Merleau-Ponty. Ekstasis: Revista de Hermenêutica e Fenomenologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 318–338, 2024. DOI: 10.12957/ek.2023.79621. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/Ekstasis/article/view/79621. Acesso em: 27 jul. 2025.