Apresentação

Autores

  • Renata N. Aranha Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
  • Helena Carvalho Basic Sciences Department. Virginia Tech Carilion School of Medicine. Roanoke, VA, Estados Unidos.

DOI:

https://doi.org/10.12957/rhupe.2014.13938

Resumo

No decorrer das últimas três décadas, os processos pedagógicos que visam à formação dos profissionais de saúde vêm sofrendo uma lenta, porém progressiva, transformação. O impacto da experiência acadêmica na relação médico-paciente tem-se evidenciado de modo a promover um novo entendimento da própria função médica. O profissional de saúde deixou de ser entendido como uma ponte entre o doente e o conhecimento científico acerca dos meios de cura e passou a agente da própria cura, com função tão estratégica quanto a dos próprios medicamentos e demais tratamentos clínicos. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Medicina, dispostas pelo Conselho Nacional de Educação, em 2001, enfatizam essa percepção, uma vez que buscam meios de formar médicos com competências multidisciplinares e com uma perspectiva pluralista de sua atividade profissional.Tendo em vista o real impacto da formação médica na sociedade, o debate sobre o aperfeiçoamento dos meios pedagógicos é estratégico para a elevação da qualidade dos serviços de saúde. Nesse sentido, a presente edição da Revista HUPE busca constituir um panorama do ensino médico atual, apresentando experiências acerca do modelo educacional existente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ) e na Virginia Tech Carilion School of Medicine and Research Institute (VTCSOM), a fim de estabelecer novos paradigmas de ensino, mais condizentes com as necessidades percebidas tanto na sala de aula quanto nos consultórios e nas clínicas.Partindo da premissa de que as circunstâncias atuais requerem uma nova abordagem da relação professor-aluno, novos métodos de ensino têm-se mostrado essenciais para aprimorar os modos de assimilação do conhecimento pelo corpo discente. Objetivando esse aprimoramento, identifica-se a necessidade de estimular a constituição de um novo perfil discente, criar um novo formato de aula e promover o desenvolvimento de um novo perfil docente. Com base nessa compreensão, os artigos desta edição da Revista HUPE foram divididos em três grupos: Educação médica: dimensões; Metodologias ativas que incentivam os alunos e Ferramentas para os docentes.A seção Educação médica: dimensões apresenta, primeiramente, um debate acerca da multidimensionalidade da prática pedagógica na área da medicina. Como disposto em Dimensões na educação médica, a relação aluno-professor deve extrapolar o âmbito da transmissão do conhecimento puramente técnico. Os aspectos humanos das relações interpessoais e o aspecto político dos contextos sociais devem ser considerados, a fim de que seja constituído um profissional consciente, competente e socialmente engajado. Na sequência, são abordadas duas competências distintas essenciais para uma mais proveitosa formação: a empatia e a liderança. Em A empatia médica e a graduação em medicina, identifica-se a importância da constituição de uma sólida relação médico-paciente, cujo impacto na capacidade de comunicação entre o doente e o terapeuta é determinante para o sucesso dos tratamentos. Já em Liderança na educação médica, o enfoque passa para o desenvolvimento da capacidade de liderar trabalhos coletivos e para os meios de ensinar a liderar. Por fim, fecha-se a seção com A narrativa como ferramenta na educação médica, em que é enfocada a importância da compreensão da narrativa para o médico, como meio de aproximação do paciente e de entendimento de sua realidade.Na seção Metodologias ativas que incentivam os alunos, trata-se diretamente dos desafios da sala de aula, para os quais são apresentadas sugestões que estimulam o maior envolvimento dos discentes com o conteúdo das aulas. Cinco artigos dispostos em sequência, nos quais o primeiro dessa série, Implementing the flipped classroom, inverte a didática tradicional das aulas de modo eficiente: o aprendizado teórico passa a ser responsabilidade do aluno, que busca informações em um momento pré-aula, e o que era feito fora do momento de aula, como exercícios de fixação e resolução de problemas, passa a acontecer com a presença do professor e da turma. Dessa forma, abre-se espaço no currículo para metodologias inovadoras, como os dois artigos que seguem nessa seção. Um deles abrange o tema de forma mais ampla e o outro apresenta uma perspectiva mais específica. Em The art of demonstration in anatomy instruction, são feitas propostas de utilização de modelos anatômicos caseiros e de demonstrações com estudantes como voluntários, a fim de criar um ambiente de aprendizado mais lúdico. A experiência de realização dessas propostas, em aula, alcançou grande sucesso. Classes não obrigatórias passaram a ser entusiasticamente frequentadas pelos alunos. No artigo seguinte, Hands-on activity for nephron physiology education, a lógica participativa e lúdica é aplicada diretamente no estudo do movimento dos eletrólitos pelo néfron, com rins feitos de papel.Seguidamente, o artigo Simulação em educação médica, apresenta a importância da utilização de técnicas de simulação no contexto educacional, expondo resultados que apontam a relevância da mudança do paradigma pedagógico atual. Por fim, em Standardized patient in small group teaching, descreve-se um caso de sucesso de simulação com atores, o qual foi criado para o desenvolvimento da prática clínica em pequenos grupos por meio do método de resolução de problemas médicos reais.A terceira e última seção desta edição denomina-se Ferramentas para docentes. Nesta, os artigos indicam meios eficazes de promover as novas propostas educacionais em sala de aula. Com The effective use of feedback in health professions teaching, é analisada a importância do feedback para o aprimoramento do aprendizado, o qual facilita a comunicação, por intermédio de um franco diálogo aluno-professor.Fechando a publicação, no artigo Aprimoramento curricular na perspectiva do desenvolvimento docente, debate-se a adequação da matriz curricular ao perfil do profissional que se deseja formar, sempre tendo em vista as necessidades sociais. Para tanto, aponta-se a mobilização do corpo docente como essencial. Por fim, em Five essential steps to effective test development, há um modelo de avaliação do desenvolvimento do corpo discente, cuja estrutura de cinco passos é simples, mas sem perder a profundidade e a eficiência.O fascículo número 4 deste ano da Revista HUPE pretende conduzir o leitor pela compreensão da necessidade de uma reformulação do modelo pedagógico atual, a fim de que o perfil do egresso atenda aos desejos e às necessidades da sociedade. Desse modo, a reestruturação curricular, os novos meios de avaliação e os diferentes métodos de ensino, que buscam tornar a aula atraente e colocar o aluno como protagonista da transmissão do conhecimento, além de criar uma consciência social e política acerca da atividade médica, são aspectos fundamentais para o alcance da almejada mudança pedagógica. Nesse sentido, não se trata de buscar o médico do futuro, mas de constituir o médico do presente, capaz de enfrentar os desafios contemporâneos da ancestral “arte da cura”.

 

Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(4):9-12doi: 10.12957/rhupe.2014.13938

Biografia do Autor

Renata N. Aranha, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Helena Carvalho, Basic Sciences Department. Virginia Tech Carilion School of Medicine. Roanoke, VA, Estados Unidos.

Basic Sciences Department.Virginia Tech Carilion School of Medicine.Roanoke, VA, Estados Unidos.

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Publicado

2014-12-30

Edição

Seção

Apresentação