Por que a carteira de vacinação do Ex-Presidente da República é um documento público?

Autores

Palavras-chave:

Carteira de Vacinação, COVID, fake news, Lei de Acesso à Informação, Erosões democráticas

Resumo

https://doi.org/10.1590/2179-8966/2023/73968

Em 2021, no ápice da maior crise sanitária que o mundo experimentava desde a pandemia de 1918-1919, vacinas com alto grau de segurança e efetividade foram produzidas em tempo recorde, e começaram a ser distribuídas mundo a fora. O então Presidente da República do Brasil, que desde o início da crise sanitária vinha promovendo um discurso falso tentando minimizar a gravidade da nova doença e da crise sanitária, bem como promovendo falsas curas como o uso de remédios comprovadamente inefetivos para tratar o novo coronavírus, começou então uma campanha anti-vacinação. Seus discursos, suas falas e seus gestos tinham o intuito de embutir a dúvida nas pessoas acerca da segurança e da efetividade da vacina no Brasil. Ao mesmo tempo, ele afirmava consistentemente que não se vacinara e não se vacinaria. Muitos começaram a se perguntar sobre a existência de provas acerca da ocorrência de vacinação ou não, mas o governo sempre negava pedidos de acesso à informação, afirmando tratar-se de documento pessoal sensível. O objetivo deste artigo é construir um argumento sobre o porquê de a carteira de vacinação de um Presidente da República ser, ao menos nesse contexto da COVID, um documento de natureza pública, que deve ser de acesso público a todo e qualquer interessado. Chego a essa conclusão a partir do desenvolvimento das seguintes premissas: agentes públicos em geral e o Presidente da República em particular têm uma expectativa reduzida de privacidade; as palavras, gestos e atitudes do Presidente da República têm influências concretas sobre as pessoas e, no contexto pandêmico, podem ter causado mortes evitáveis; as informações contidas na carteira de vacinação do Ex-Presidente são necessárias para fins de responsabilização; o consentimento do titular de informações pessoais sensíveis torna-as públicas.

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Biografia do Autor

Marcio Camargo Cunha Filho, Universidade de Brasília

Professor adjunto do curso de graduação em Direito do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento, Ensino e Pesquisa, IDP (2019-). Professor colaborador do Mestrado acadêmico em Direito Constitucional da mesma instituição (2021). Professor do MBA em jornalismo investigativo do IDP (2021). Professor do curso de especialização em Ouvidorias Públicas (CGU/OEI - 2019/2020). Professor voluntário da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (2018-2020). Atual coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Brasília (CEP/CHS - UnB) (2021-). Doutor em Direito, Estado e Constituição (UnB) e Mestre em Ciência Política (UFRGS). Líder do grupo de pesquisa Direito e Ciência Comportamental (IDP/CNPq). Foi editor da Revista da CGU (2018-2021). Fui pesquisador visitante na American University (2016-2017). Sou também, desde 2012, Auditor Federal da Controladoria-Geral da União, onde atuei em diversas áreas e funções, tendo sido assessor do Ouvidor-Geral da União (2012-2014), integrante da comissão que atuou para a elaboração da Lei de Proteção aos Usuários de Serviços Públicos. Mais recentemente, foi membro do grupo de transiçao do governo (2022-2023) e integrante da comissão encarregada de rever os sigilos indevidos adotados pelo goveron Bolsonaro. Atuou em diversas áreas da CGU, em especial a Secretaria Federal de Controle Interno e a Ouvidoria-Geral da União, sendo que atualmente exerço a função de Chefe de Gabinete da Secretaria Nacional de Acesso à Informação. Tenho interesse por um vasto leque de temas de pesquisa, mas minha produção principal se foca em temas relacionados à transparência pública e segredos estatais. Destaco, nesse sentido, livro de que fui coautor em 2014 intitulado "Lei de Acesso à Informação: teoria e prática".

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Publicado

2023-12-06

Como Citar

Cunha Filho, M. C. (2023). Por que a carteira de vacinação do Ex-Presidente da República é um documento público?. Revista Direito E Práxis, 15(2). Recuperado de https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaceaju/article/view/73968

Edição

Seção

Artigos inéditos