Memórias Compartilhadas e Divergências Geracionais sobre o Regime Militar no Brasil
Palavras-chave:
memória social, construção social da memória, memória geracional, regime militarResumo
Passado mais de meio século da implantação do regime militar no Brasil, o seu significado histórico e as suas consequências ainda repercutem no imaginário das pessoas. O presente artigo explora, comparativamente, as memórias e avaliações sobre o período na perspectiva de brasileiros que vivenciaram os eventos da época e daqueles que nasceram durante ou após o processo de redemocratização do Brasil. Estuda-se, portanto, as representações sobre o regime militar que são compartilhadas por indivíduos de diferentes gerações a partir da recordação de eventos que marcaram o período. A pesquisa, realizada entre 2012 e 2014, envolveu 2917 habitantes da cidade de Salvador e região metropolitana. Dos participantes, 1348 eram idosos e 1569 estudantes universitários, com idades compreendidas entre 17 e 95 anos de idade (média= 44,2 anos; DP=23,1), dos quais 1486 eram homens. Os resultados indicam que ambos os grupos possuem uma representação predominantemente negativa do regime militar. Para os participantes, o período foi marcado por decisões políticas impostas à população por meio da força, violência, censura e repressão. A despeito disso, diferenças entre os grupos foram identificadas: os estudantes universitários lembram mais de atos políticos e os idosos de eventos violentos. Os resultados foram interpretados à luz dos princípios teóricos da construção social da memória.
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