“Eu não sei, não tenho ideia”
Edição genética de embriões e ignorância autoatribuída
Palavras-chave:
Representações sociais, Biotecnologia, InovaçãoResumo
A edição genética do embrião é uma inovação científica socialmente controversa. Esse procedimento consiste em eliminar trechos específicos de DNA, possibilitando sua substituição por novas sequências de genes. O aprimoramento desta técnica levanta muitas polêmicas, não só entre o senso comum, mas também no cenário científico. Para compreender a representação social de um grupo sobre determinado objeto, é relevante considerar a distância ou proximidade que os indivíduos mantêm com ele. Desse modo, a presente pesquisa investigou o nível de conhecimento e implicação na elaboração de representações sociais sobre edição genética de embriões, bem como analisou a modulação do gênero, da religião e do nível de escolaridade dos participantes na construção dessas relações. Uma amostra de 40 participantes, diversificada quanto ao gênero, escolaridade e pertença religiosa foi entrevistada a partir de um roteiro semiestruturado. As entrevistas transcritas foram objeto de uma análise de conteúdo temático-categorial e, logo depois, buscamos identificar as dimensões da distância ao objeto nas categorias previamente estabelecidas. A edição genética parece ser um objeto cujas representações ainda estão em construção, tendo sido observado o fenômeno da ignorância autoatribuída em diferentes níveis de análise. Preconiza-se novos estudos para explorar pertenças sociais que parecem não gerar diferenças nos fenômenos observados numa perspectiva exploratória.
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