Panorama teórico de concepções de família em psicologia
Análise da literatura sobre família homoparental masculina e filhos de pais gays
Palavras-chave:
Família, Família homoparental masculina, Filhos de pais gays, Pânico moralResumo
A noção de família tradicional tem passado por transformações e atualizações, abrindo espaço para constituições familiares como aquelas com pai(s) homossexual(is) (homoparentalidade). Na esteira dessa discussão, o presente artigo tem por objetivo apresentar um panorama teórico sobre a literatura nacional e internacional de concepções de família, sobretudo as de configuração homoparental masculina, analisando, especificamente, o conhecimento que a Psicologia sistematiza sobre os filhos de pais gays. O reconhecimento de famílias de configuração homoparental pela sociedade é atravessado pela conceituação totalizante de que o casal heterossexual seria o único a ter competência para constituir uma família e criar filhos/as saudáveis, além de representar um perigo aos valores e interesses societários para parte da população (pânico moral). Nos arranjos familiares atuais, os homens têm desempenhado papeis que até recentemente eram entendidos como exclusivos ao universo feminino com relação ao cuidado dos/das filhos/as, representando um redimensionamento das paternidades. Trata-se do fenômeno da redefinição de expectativas sociais de gênero, que gera temor nos setores mais reacionários da sociedade, quando toca a esfera da diversidade sexual, especialmente quando relacionado à parentalidade. Apesar da crescente visibilidade das famílias homoparentais, os/as filhos/as ainda podem sofrer moralmente, pela configuração familiar ou pela orientação sexual dos/das pais/mães em si. Analisando as famílias homoparentais masculinas sob a perspectiva dos filhos, em uma ótica de gênero, percebe-se que essa literatura ainda parece ser escassa, encontrando-se poucos estudos que versem sobre as vivências dos filhos de pais gays.
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