“Medicina não é curso pra filho de doméstica não”: (im)pactos da/para branquitude

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/palimpsesto.2024.84679

Palavras-chave:

(im)pactos da branquitude;, poder-verdade, interseccionalidade, colonialidade, resistência.

Resumo

Este artigo apresenta uma leitura discursiva de um relato retirado do livro “Eu, empregada doméstica: a senzala moderna é o quartinho da empregada doméstica” (2019), com o objetivo de analisar a relação entre a hegemonia da branquitude e a construção do racismo na definição dos lugares de privilégio na sociedade. Para tanto, baseia-se nos conceitos de pacto da branquitude (Bento, 2022), nas noções de discurso, poder e verdade (Foucault, 2012, 1979), e na colonialidade do poder (Quijano, 2010, 2005) e do ser (Maldonado Torres, 2007), além da perspectiva interseccional (Davis, 2016). A persistência de um padrão normativo branco define lugares sociais, refletindo os (im)pactos coloniais. Entretanto, a ironia (Brait, 2008) emerge como estratégia de resistência e reexistência (Souza, 2011).

Biografia do Autor

Alécia Lucélia Gomes Pereira, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Mestre pelo Programa da Pós-Graduação de Letras - PPGL/UFPB (2013). Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna pela Universidade Federal de Campina Grande (2011). Especialista em Ciências da Linguagem com ênfase no Ensino de Língua Portuguesa, pela Universidade Federal da Paraíba (2017). Graduada em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Paraíba (2010). Foi professora contratada pela Universidade Estadual da Paraíba Possui experiência na área de Letras, Língua Portuguesa, leitura e produção textual, atuando, principalmente, nas áreas da Análise de Discurso Francesa e em estudos decoloniais.

Melissa Raposo Costa , Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Possui mestrado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2007). Atualmente é professora de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte e faz doutorado em Linguagem e Ensino, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Ensino e Aprendizagem de Língua Materna, atuando principalmente nos seguintes temas: leitura, formação de professores, relação teoria-prática. Atualmente tem interesse em análise do discurso e construção de discursos racistas.

Maria Angélica Oliveira, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (1997), especialização em Leitura e Produção de Textos (1998); mestrado em Letras (2001); doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2005); pós-doutorado em Linguagem e Ensino pela Universidade Federal de Campina Grande (2021). Atualmente é professora titular da Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, em Língua Francesa, em Análise de Discurso e em Letramento Racial Crítico. Orienta pesquisas que se filiem ao campo dos Estudos Discursivos, dos Estudos Literários e dos Estudos decoloniais. Tem interesse na investigação de práticas de linguagem que busquem problematizar e combater a invisibilidade do lugar histórico dos sujeitos não-brancos e de seus respectivos saberes, no plano do real ou da ficcionalidade. Seu projeto atual desenvolvido no PPGLE/UFCG visa questionar as vontades de verdade da visão monocromática e ocidentalocêntrica da racistocracia (VIDA, Samuel; 2022) em que vivemos que justifica e perpetua práticas intolerantes e violentas. Atualmente é pós-doutoranda do PÓSCRÍTICA/UNEB

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Publicado

2024-09-27

Como Citar

Pereira, A. L. G., Costa , M. R., & Oliveira, M. A. (2024). “Medicina não é curso pra filho de doméstica não”: (im)pactos da/para branquitude. Palimpsesto - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Letras Da UERJ, 23(46), 343–367. https://doi.org/10.12957/palimpsesto.2024.84679